Sala de aula invertida

A sala de aula invertida é um método de ensino que inverte a dinâmica tradicional da sala de aula. Na sala de aula invertida, o/a estudante é responsável por fazer uma primeira abordagem aos conteúdos fora da sala de aula, por meio de recursos pedagógico-didáticos (vídeos, leituras ou outros) intencionalmente preparados e/ou disponibilizados pelo/a docente para o efeito, sendo o tempo de aula organizado para a realização de atividades mais complexas e interativas, como resolução de problemas, discussões em grupo ou projetos.

A sala de aula, com a sequência de atividades invertidas (em casa, a exposição; em aula, a resolução de problemas):

• permite que os/as estudantes participem mais ativamente nas aulas, uma vez que têm um conhecimento prévio do conteúdo;
• oferece aos/às docentes mais tempo para atender às necessidades individuais dos/as estudantes (Flipped Classroom Field Guide, 2014);
• gera percursos de aprendizagem mais flexíveis, pois os/as estudantes podem progredir no processo de aprendizagem de acordo com o seu ritmo.

• Acesso prévio aos conteúdos, assegurado pela disponibilização de diversos recursos (vídeos, leituras, podcasts, documentários, entre outros).
• Aprendizagem centrada no/a estudante, incentivado a preparar antecipadamente a aula presencial, através de leitura, audição e visionamento autónomo de fontes de informação e conhecimento, o que o/a ajuda a compreender o conteúdo objeto de aprendizagem e a identificar dúvidas que podem ser esclarecidas em contexto de sala de aula.
• Aprendizagem ativa do/a estudante estimulado a participar ativamente no processo de aprendizagem através de aplicação prática de conceitos, resolução de problemas, discussões em grupo, questionários, por exemplo.
• Avaliação formativa conduzida pelo/a docente mediante feedback imediato dado aos/as estudantes ao longo da realização das atividades em sala de aula.
• Desenvolvimento académico, potenciado pela existência de ocasiões para receber feedback dos/as estudantes e utilizar esse retorno para ajustar as atividades em sala de aula de acordo com as necessidades dos/as estudantes (Flipped Classroom Field Guide, 2014), é uma prática que facilita o desenvolvimento académico dos/as docentes e melhora a aprendizagem (Shulman & Shulman, 2009).

Promove a aprendizagem ativa 
A colaboração entre estudantes e a interação com o/a docente são essenciais para o sucesso do ensino e da aprendizagem na sala de aula invertida. Ao participarem em atividades de aprendizagem ativa, os/as estudantes são incentivados/as a pensar criticamente, resolver problemas e colaborar uns com os outros.

Estimula a compreensão / construção de novos conhecimentos 
A gravação de vídeos e o acesso permanente à informação promovem a compreensão e o aprofundamento do conhecimento dos/as estudantes, o que leva à construção de novos conhecimentos.

Promove o ensino autorregulado 
A visualização de vídeos antes das aulas presenciais permite que os/as estudantes identifiquem as suas fragilidades e entendam o seu nível de conhecimento dos conteúdos abordados.

Melhora o desempenho académico dos/as estudantes 
Em ambientes de aprendizagem blended learning, o acesso prévio aos conteúdos permite aos/às docentes direcionar as aulas de acordo com as necessidades dos/as estudantes, abordando as lacunas na compreensão e estimulando as suas competências.

Atualmente, a sala de aula invertida é um método de ensino reconhecido e utilizado por docentes em diferentes níveis de ensino (Flipped Classroom Field Guide, 2014).  Estudos indicam que a sala de aula invertida tem o potencial de melhorar o desempenho académico dos/as estudantes, pois estimula a cooperação e o envolvimento dos/as estudantes nas atividades propostas em sala de aula (Remião & Veiga, 2022).

A sala de aula de invertida é um método que pode ser eficaz para melhorar a aprendizagem dos/as estudantes, mas requer planeamento e esforço por parte do/a docente (Educause, 2012). Um dos principais desafios é a gravação de vídeos, que pode ser demorada e requer habilidades técnicas (Educause, 2012).  No entanto, como denota Perrenoud (2008), o desempenho académico dos/as estudantes e a qualidade do ensino superior depende, por vezes, da qualidade do corpo docente.

Ainda assim, para que os/as estudantes aprendam de forma eficaz, é importante que assumam um papel ativo no processo de aprendizagem (Bologna With Student Eyes, 2020). Isso significa que eles/as devem ser capazes de se autoregularem, ou seja, de gerir a sua própria aprendizagem (Perrenoud, 2001). Essa capacidade inclui habilidades como estabelecer metas, monitorizar o seu progresso e fazer ajustes conforme necessário (Perrenoud, 2001).

Etapas de preparação

O primeiro passo, de preparação da sala de aula invertida é definir os objetivos e resultados de aprendizagem que o/a docente pretende alcançar com a aula invertida. Isso ajudará a orientar a escolha dos recursos e atividades a serem implementadas (Flipped Classroom Field Guide, 2014). Os objetivos de aprendizagem devem ser consistentes com os métodos de ensino e avaliação, que devem ser projetados para alcançar os resultados de aprendizagem pretendidos (Biggs, 1996). Com os objetivos de aprendizagem definidos, é importante que o/a docente selecione os recursos que serão utilizados fora da sala de aula. Esses recursos podem incluir vídeos, artigos, podcasts, exercícios, entre outros (Flipped Classroom Field Guide, 2014).

No processo de planeamento de atividades, é fundamental desenvolver aquelas que serão realizadas em sala de aula durante a produção de materiais. Essas atividades devem proporcionar aos/às estudantes a oportunidade de explorar os conceitos previamente aprendidos fora da sala de aula, contribuindo para o desenvolvimento de suas competências. Neste sentido, é responsabilidade do/a docente incentivar o contacto dos/as estudantes com o material antes da aula, destacando a relevância dessa preparação para o processo de aprendizagem em sala de aula. O planeamento das atividades em sala de aula deve contemplar práticas que permitam a aplicação dos conceitos adquiridos durante a preparação. Isso pode incluir a organização de atividades práticas, discussões ou exercícios que consolidem a compreensão dos/as estudantes e promovam uma experiência de aprendizagem envolvente e interativa.

No que toca à avaliação e, sendo esta um modelo de avaliação formativa, os fóruns podem ser usados para avaliar a compreensão dos/as estudantes sobre um determinado tema. Além de avaliar a compreensão dos/as estudantes os fóruns também podem ser utilizados para promover a aprendizagem ativa e colaborativa, já que os/as estudantes são incentivados/as a participar nas discussões, partilhando ideias e perspetivas. Em síntese, a avaliação formativa é um processo de avaliação contínuo que ocorre durante o processo de aprendizagem, o objetivo é fornecer feedback aos/às estudantes, auxiliando-os/as na construção de conhecimento e na melhoria de resultados de aprendizagem (Fernandes, 2006).  Portanto, a integração de fóruns como parte da dinâmica da sala de aula invertida pode ser uma estratégia valiosa para fortalecer a participação dos/as estudantes promover a troca de ideias e construir aprendizagens significativas.

Etapas de implementação

A implementação da sala de aula invertida envolve vários princípios fundamentais que visam promover uma abordagem centrada no/a estudante e estimular a aprendizagem ativa e colaborativa. Neste contexto, a disponibilização de recursos online para os/as estudantes consultarem antes da aula presencial, bem como o acesso antecipado aos conteúdos permite que os/as estudantes se familiarizarem com os conteúdos que serão abordados em sala de aula. Isso facilita a compreensão e a aprendizagem, mas também que identifiquem dúvidas, as quais podem ser esclarecidas em sala de aula. Este método promove uma aprendizagem centrada no/a estudante, incentivando o desenvolvimento da autonomia e habilidades de autorregulação. Os/as estudantes podem aprender de maneira mais eficaz, adaptando-se às suas próprias necessidades e ritmos de aprendizagem (Perrenoud, 2001).

Neste cenário, a aprendizagem ativa, decorrente da participação ativa dos/as estudantes no processo educativo, proporciona uma compreensão mais profunda do conteúdo. Além disso, favorece o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como cooperação, comunicação e resolução de problemas (Johnson & Johnson, 2009).

No que toca à avaliação formativa, o ensino just-in-time é uma estratégia pedagógica que usa dados de desempenho dos/as estudantes (avaliação formativa), para ajustar o ensino às necessidades específicas de cada estudante (Flipped Classroom Field Guide, 2014). Neste contexto, o feedback imediato é uma ferramenta poderosa que pode ajudar os/as estudantes a aprender de forma mais eficaz e eficiente Flipped Classroom Field Guide, 2014). É particularmente importante em atividades de aprendizagem ativa, onde os/as estudantes têm a oportunidade de participar de forma ativa no processo de aprendizagem, pois permite que os/as estudantes esclareçam dúvidas, melhorem o desempenho académico e, ao mesmo tempo, reflitam sobre a sua própria aprendizagem, identificando possíveis fragilidades no seu conhecimento (Flipped Classroom Field Guide, 2014).

Quanto ao refinamento do processo educativo este é um processo dinâmico e contínuo, que deve ser constantemente aprimorado (Flipped Classroom Field Guide, 2014). Uma das formas de fazer isso é ouvir o feedback dos/as estudantes (Flipped Classroom Field Guide, 2014). Essa prática viabiliza a oportunidade de melhorar as aulas, adaptando-as de forma a atender de maneira mais eficaz às necessidades de cada estudante (Flipped Classroom Field Guide, 2014).

Por fim, a avaliação sumativa que deve ser projetada para medir os resultados de aprendizagem propostos para a unidade curricular, já que alinhar a avaliação aos resultados de aprendizagem é um dos elementos-chave da qualidade do ensino superior (Biggs, 1996). Além de desempenhar um papel essencial ao avaliar a aprendizagem dos/a estudantes, também serve como um meio para refinar a qualidade do ensino superior (Shulman & Shulman, 2009). Conforme discutido por Shulman e Shulman (2009), o desenvolvimento académico docente ocupa um papel fundamental na promoção da melhoria contínua do processo educativo.

A jeito de conclusão, os princípios da sala de aula invertida são baseados em uma abordagem centrada no/a estudante que promove a aprendizagem ativa. Esses princípios podem ser aplicados em diversas unidades curriculares e níveis de ensino. Ao seguir esses princípios, os/as docentes podem criar um ambiente de aprendizagem mais eficaz e envolvente.

• Flipped Learning Network
  Em 2014, a Flipped Learning Network criou um portal que é uma importante fonte de informação para docentes de todos os níveis de ensino e, todas as unidades curriculares, que desejem implementar a sala de aula invertida.
• Learning Catalytics
  Learning Catalytics oferece aos/às docentes um software interativo gratuito, possibilitando aos/às estudantes a discussão, aplicação prática e obtenção de feedback em tempo real a partir do conteúdo apresentado durante as aulas. Learning Catalytics é uma ferramenta de resposta interativa que incentiva a aprendizagem ativa.

• Biggs, J. (2001). The reflective institution: Assuring and enhancing the quality of teaching and learning. Higher education, 41, 221-238. ©2001 Kluwer Academic Publishers. Printed in the Netherlands.
• Bolonha With Student Eyes, 2020. Brussels, December 2020 by European Students’ Union (SEU)
• EDUCAUSE: Things you should know about flipped classrooms. 2012.
• Crouch, C. H., & Mazur, E. (2001). Peer instruction: Ten years of experience and results. American journal of physics, 69(9), 970-977.
• Fernandes, Domingos. (2006). Para uma teoria da avaliação formativa. Revista portuguesa de educação, 19, 21-50.
• Flipped Classroom Field Guide. (2014)
• Herreid, C. F., & Schiller, N. A. (2013). Case studies and the flipped classroom. Journal of college science teaching, 42(5), 62-66. Disponível em:
• Johnson, D. W., & Johnson, R. T. (2009). An educational psychology success story: Social interdependence theory and cooperative learning. Educational researcher, 38(5), 365-379 DOI: 10.3102/0013189X09339057
• Perrenoud, P. (2001). Dez novas competências para uma nova profissão. Pátio: RevistaPedagógica, 5(17), 8-12. In Pátio. Revista pedagogica (Porto Alegre, Brasil), n° 17, Maio-Julho, pp. 8-12.
• Perrenoud, P. (2008). Construir competências desde a escola.
• Remião, F., & Veiga, A. (2022). As aulas invertidas em ciências farmacêuticas e o envolvimento dos estudantes (entre estudantes). In Livro de atas do 7º Congresso Nacional de Práticas Pedagógicas no Ensino Superior.
• Shulman, Lee & Shulman, Judith. (2004). How and What Teachers Learn: A Shifting Perspective. Journal of Curriculum Studies, 36:2, 257-271, DOI: 10.1080/0022027032000148298
• Valente, J.. (2014). Blended learning e as mudanças no ensino superior: a proposta da sala de aula invertida. Educar em Revista. 79-97. 10.1590/0104-4060.38645.