“Enquanto alguns países contam o número de soldados ou medem palmos de território, Portugal usa a dimensão global da língua portuguesa como andas para disfarçar a sua altura. Mas quantos são, na realidade, os falantes de português? O número tem variado entre os 270 milhões (Presidente do Instituto Camões, 2019) e os 234 milhões e 220 milhões (sites Ethnologue e Babbel, referências na área).
Estas estatísticas referem-se a falantes nativos, ou seja, à língua de primazia adquirida em primeiro lugar, em ambiente familiar.
Quem tem razão? E é importante ter razão?
Para chegarmos a algumas conclusões, vamos por países.
(…) A riqueza da língua portuguesa não está cristalizada apenas no número de falantes espalhados pelo mundo que lê, escreve e fala nativamente a língua originária de Portugal, mas nos intercâmbios constantes da língua portuguesa com outras linhagens culturais. Cada vez que um japonês usa as palavras “pan” (パン) para pão, “koppu” (コップ) para copo ou “kirisuto” (キリスト) para Cristo, celebra-se um desses intercâmbios. Cada vez que um brasileiro discute “samba” enquanto come “moqueca” com “farofa” assinala-se uma permuta com os idiomas kimbundu e kikongo de Angola. Cada vez que um cabo-verdiano usa as mais de mil palavras de origem árabe presentes na língua portuguesa, relembra uma história quase milenar. E as palavras portuguesas que migraram para o idioma inglês? “Zebra” era originalmente um equídeo selvagem alentejano (“zebro”), descrito em forais de D. Dinis.
Muitas outras línguas, igualmente faladas por milhões de pessoas, como o russo ou o bengali, são historicamente menos permeáveis a contactos externos. São idiomas que cresceram dentro de casa. O português sempre foi uma língua de rua, porosa e moldável, que influenciou e foi influenciada. É uma língua de intercâmbios – cada palavra é um arquivo de uma história e um reservatório de diferentes culturas. Se existem cerca de 254,3 milhões de nativos de português, o número de pessoas atingidas por essas permutas alcança milhares de milhões de pessoas. É aqui que reside a fertilidade e o valor da língua portuguesa.” (fonte: TSF)