História da

Língua Portuguesa

Breve viagem pela história da língua portuguesa.

Textos antigos

Existem três documentos considerados os mais antigos escritos, datados e ainda preservados em português.

1. "Notícia de Fiadores"

O documento mais antigo escrito em português data de 1175 – início do século XII, quando era ainda o rei D. Afonso Henriques Rei de Portugal. Este documento designa-se “Notícia de Fiadores” e faz parte do espólio do Mosteiro de São Cristóvão de Rio Tinto. Neste documento são identificadas as dívidas de Pelágio Romeu.

“Notícia de Fiadores”

IAN/TT, Mosteiro de São Cristóvão de Rio Tinto, maço 2, documento 10; 120 x 327mm.

(ap. Castro, Ivo, Rita Marquilhas e Cristina Albino (2001). Tempo da Língua.

Imagens da História da Língua Portuguesa. Lisboa: Instituto Camões, p. 16-17.)

Transcrição:

Linha 1 →  Noticia fecit pelagio romeu de fiadores Stephano pelaiz .xxi. solidos lecton .xxi. soldos pelai garcia .xxi. soldos. Güdisaluo Menendice. xxi soldos

Linha 2 →  Egeas anriquici xxxta soldos. petro cõlaco .x. soldos. Güdisaluo anriquici .xxxxta. soldos Egeas Monííci .xxti. soldos [i l rasura] lhoane suarici .xxx.ta soldos

Linha 3 →  Menendo garcia .xxti. soldos. petro suarici .xxti. soldos Era Ma. CCaa xiitia Istos fiadores atan .v. annos que se partia de isto male que li avem

2. "Notícia de Torto"

A “Notícia de Torto” foi escrita entre 1211 e 1216, provavelmente em 1214 – início do século XIII. Este documento dá conta dos conflitos entre duas famílias e, por conseguinte, das malfeitorias que vitimaram de forma injusta Lourenço Fernandes da Cunha.

“Notícia de Torto”

IAN/TT, Mosteiro do Vairão, maço 2, documento 40; 315 x 170mm

(ap. Castro, Ivo, Rita Marquilhas e Cristina Albino (2001). Tempo da Língua.

Imagens da História da Língua Portuguesa. Lisboa: Instituto Camões, p. 19.)

3. "Testamento de D. Afonso II"

O “Testamento de D. Afonso II” (documento régio, formal) data de 1214 – início do século XIII.

“Testamento de D. Afonso II”

IAN/TT, Mitra de Braga, caixa 1, documento 48; 240x495mm

(ap. Castro, Ivo, Rita Marquilhas e Cristina Albino (2001). Tempo da Língua.

Imagens da História da Língua Portuguesa. Lisboa: Instituto Camões, p. 18.)

Cancioneiro Geral

Garcia de Resende reuniu a poesia produzida por vários autores nas cortes de D. Afonso V, D. João II e D. Manuel.

O ‘Cancioneiro Geral’ é escrito em português e em espanhol, e foi impresso em 1516. Além de reunir as obras, Garcia de Resende escreveu o prólogo.

“No ‘Cancioneiro Geral’ encontram-se produções poéticas de Gil Vicente, Sá de Miranda, Bernardim Ribeiro, D. Pedro (Condestável de Portugal), Jorge de Aguiar, Diogo Brandão, além do próprio Garcia de Resende.

A maioria das composições do ‘Cancioneiro Geral’ destinava-se aos serões do paço, onde se recitava, disputavam concursos poéticos, ouviam música, galanteavam, jogavam, realizavam pequenos espetáculos de alegorias ou paródias. Tudo isso feito pelos nobres, tendia a apurar-se, os vestuários, os gestos, os penteados e a linguagem mantendo forte influência da corte. (…)

O ponto alto do ‘Cancioneiro Geral’ é representado pelo lirismo amoroso. O amor cortês, a súplica mortal, a coita retomam a tradição trovadoresca, enriquecida com a influência petrarquista na introspecção sentimental, na análise das contradições do amor. Algo de novo se insinua nesse lirismo suplicante e contemplativo: a mulher desce à Terra, carnaliza-se, adquirindo graças físicas e sensoriais que a maioria dos velhos trovadores galego-portugueses não ousava revelar.”

Gramáticas

'GRAMÁTICA DA LINGUAGEM PORTUGUESA' de Fernão de Oliveira e 'GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA' de João de Barros

A ‘GRAMÁTICA DA LINGUAGEM PORTUGUESA’ de Fernão de Oliveira é a primeira gramática da língua portuguesa, tendo sido publicada em 1536, em Lisboa.

A ‘GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA’ de João de Barros foi publicada em 1540. Esta gramática tem um caráter normativo, mas também pedagógico – visto que pretendia ajudar no ensino da língua.

Árvore genealógica

O português é uma língua românica descendente do latim vulgar.

"Árvore genealógica da língua portuguesa"

De acordo com Reto, “Portugal atinge a sua identidade territorial no século XIII e sua plena identidade linguística no século XVI” (Reto, L. (coord.) (2012). Potencial Económico da Língua Portuguesa. Lisboa: Texto Editores.).

“Árvore Genealógica da Língua Portuguesa”

(Fonte: Robert A. Hall, Jr., External History of Language Change. Nova Iorque-Londres-Amesterdão, American Elsevier Publishing Company, Inc., 1974)

(ap. Castro, Ivo, Rita Marquilhas e Cristina Albino (2001). Tempo da Língua.

Imagens da História da Língua Portuguesa. Lisboa: Instituto Camões, p. 10-11.)

Crioulos de Base Portuguesa

Crioulo “é uma língua que resulta de uma forma especial de contacto entre línguas.”

(Pereira, 2006: 13)

(Pereira, 2006: 34, 47)

Frases em Crioulo de Santiago de Cabo Verde:

"Mininu fémia é spértu."
(As meninas são espertas.)
"Fumu ta due kabesa."
(O fumo faz doer a cabeça.)
"Katxor fara osu."
(O cão farejou o osso.)
"Es tene kabelu brumedju."
(Eles têm cabelo louro.)

A palavra Crioulo deriva da palavra ‘cria’ que significa “pequena cria” ou “pequeno animal de mama”. (Pereira, 2006: 19)

Os Crioulos “são uma espécie de laboratório privilegiado de análise dos processos de aquisição linguística em contextos adversos e das mudanças linguísticas operadas pelo contacto entre línguas”. (Pereira, 2006: 15)

“… os crioulos distinguem-se das outras línguas pela rapidez da sua formação, em condições históricas fora do comum: por necessidade social, falantes de diferentes línguas maternas procuram a todo o custo comunicar entre si usando uma língua que, sendo mais funcional, no entanto não dominam, nem lhes é de fácil acesso”. (Pereira, 2006: 15)

“No processo de formação dos crioulos, a língua socialmente dominante (de superstrato) é a língua que ‘dá’ o léxico. Diz-se, então, que um crioulo é ‘de base portuguesa’ quando as unidades lexicais são, na sua maioria, reconhecidamente de origem portuguesa, embora, na sua estrutura, se rejam por regras fonológicas e morfológicas próprias, possam ter significados diferentes e impliquem construções sintácticas também diferentes”. (Pereira, 2006: 47)

“Os crioulos de base portuguesa nasceram num contexto de relações comerciais e de escravatura em que o português era a língua dominante. Uma vez formados, mantiveram-se, durante séculos, à sombra de línguas de maior prestígio. Uns mais falados do que outros, mas sempre marcados pelas origens, foram remetidos para um estatuto subalterno de que ainda hoje alguns se estão a libertar, procurando criar condições para a sua oficialização (através, nomeadamente, da definição de formas normalizadas de escrita)”. (Pereira, 2006: 15)

(Fonte: Pereira, D. (2006). O essencial sobre língua portuguesa: Crioulos de base portuguesa. Lisboa: Caminho.)

Mapa dos Crioulos de Base Portuguesa

(Fonte: Instituto Camões → [hiperligação para a página])

Mapa dos Crioulos de Base Portuguesa