Descrição
Esta investigação visa mostrar a experiência das mulheres na cidade moderna, entre o final do século XIX e o início do século XX, centrando-se particularmente nos lavadouros públicos da cidade do Porto.
Os lavadouros públicos são a espacialização da condição das mulheres no sul da Europa e, no caso deste trabalho, na cidade do Porto, durante o processo de urbanização da cidade moderna. A emergência da dicotomia entre o espaço privado e público priva as mulheres do acesso ao espaço da política. A higiene torna-se uma necessidade vital, e os lavadouros antigos são espaços que transmitem doenças e epidemias. Com a criação da SMAS (Serviços Municipalizados de Água e Saneamento) do Porto, a cidade transforma-se assim num laboratório de experimentação de tipologias de lavadouros, e, com isso, o lavadouro como espaço comunitário desaparece dando lugar ao lavadouro como espaço de controlo do corpo das mulheres no espaço urbano.
Os lavadouros públicos são espaços potenciais mas negligenciados. O seu processo de abandono coincide com o confinamento das mulheres em casa, tornando-se os lavadouros obsoletos a partir dos anos 90. O atravessamento do espaço urbano da cidade do Porto permite a compreensão das suas práticas e e dos seus usos contemporâneos e, a partir disso, propor uma cartografia atual, que torna visíveis esses espaços marginalizados.
Os lavadouros públicos são espaços chave para o planeamento urbano feminista na cidade do Porto. A fim de reler a história e incluir as mulheres, é preciso salientar a contribuição do trabalho reprodutivo das mulheres na construção da cidade. A reativação dos lavadouros públicos requer a requalificação e valorização deste património material, os lavadouros, e do património imaterial, as práticas a eles associadas. É essencial preservar a memória das mulheres na cidade do Porto, para que a presença destas na cidade não seja apenas um murmúrio.
