O Desenho Contemporâneo em Diálogo com a Obra de Abel Salazar remete, simultaneamente, para um ciclo de exposições que decorreu na Casa-Museu Abel Salazar, entre fevereiro de 2020 e abril de 2022, e para o catálogo que reúne imagens e textos das sete exposições daquele ciclo – uma edição do i2ADS e da Editora da Universidade do Porto, na sua coleção Atelier.
Este ciclo de exposições permitiu estabelecer um diálogo entre a obra de Abel Salazar – artista, cientista, médico e antigo professor da Universidade do Porto – e desenhos de artistas contemporâneos, salientando não só a sua relevância, mas a pertinência destes mesmos desenhos na atualidade.
Para além das funções que desempenhou, Abel Salazar “foi acima de tudo um homem do conhecimento”, conforme assinalou Sílvia Simões, curadora da exposição e organizadora do catálogo, na nota introdutória desta publicação. “Preocupado com os direitos e igualdade entre os homens e mulheres, representou-os e escreveu sobre eles deixando-nos um legado de vários escritos, pinturas e desenhos”. E foram os desenhos de Abel Salazar a inspirar este ciclo, que teve como “intenção primeira” demonstrar a “diversidade e transversalidade do uso do desenho” em diferentes campos, como os das artes, ciências humanas, ciências exatas e ciências da vida.
Para dar forma ao ciclo de exposições foram convidados sete artistas: Rosi Avelar, Mário Vitória, Mário Bismarck, Sílvia Simões (também curadora da exposição e organizadora do catálogo), Paulo Almeida, Bárbara Fonte e Martinha Maia.
A partir de exemplares que puderam selecionar, livremente, da obra de Abel Salazar, foi pedido a estes artistas para interpretarem diálogos gráficos, dando origem a novas propostas artísticas. Pretendia-se, assim, promover “a criação de várias leituras, também elas divergentes, onde se identificaram meios e técnicas do desenho, processos e temas que potenciaram a relação expandida com o campo da prática do desenho”, concluiu Sílvia Simões.
AS DIFERENTES ABORDAGENS
O ciclo de exposições e o catálogo integraram, por esta mesma ordem, “Instantâneos” (Rosi Avelar), “Obsessões e Resistências” (Mário Vitória), “Desenhos em Desaparecimento” (Mário Bismark), “Deambulações Gráficas” (Sílvia Simões), “Coreografias do Riso” (Bárbara Fonte), “A Leveza da Barricada” (Paulo Luís Almeida) e “Anatemnõ” (Martinha Maia”).
Na exposição “Instantâneos”, apresentaram-se desenhos digitais que Rosi Avelar criou com o seu Ipad, cujas temáticas também intitularam muitos dos desenhos de Abel Salazar: “Retratos”, “Cenas de rua” e “Cenas de interior”.
Em “Obsessões e Resistências”, Mário Vitória organizou cinco grupos temáticos: “Variações”, “Sísifos”, “Impulsos”, “Animismo” e “Sátiras”. Trata-se, sobretudo, de desenhos preparatórios e de estudo para outros projetos do autor.
Em “Desenhos em Desaparecimento”, de Mário Bismarck, foi exposto o diálogo entre a obra dos dois artistas, que encontraram no desenho de figura o instrumento ideal para entenderem e se relacionarem com o desenho do corpo.
“Deambulações Gráficas”, de Sílvia Simões, reuniu cerca de 400 desenhos que incentivam encontrar nos gestos, composições e suportes utilizados por Abel Salazar o pretexto para representar a paisagem.
Com “Coreografias do Riso” Bárbara Fonte revela um conjunto de desenhos menos conhecidos que Abel Salazar produziu ainda enquanto estudante, entre 1910 e 1915: as caricaturas.
A “Leveza da Barricada” retrata um encontro inesperado entre os desenhos que Abel Salazar fez das carvoeiras do Porto, por volta de 1938, e uma série de intervenções no Bairro do Amial, inaugurado também em 1938, que Paulo Luís Almeida tem vindo a desenvolver desde 2007.
A última exposição, que encerrou o ciclo, em abril deste ano, parte de uma palavra que não existe em português – “Anatemnõ”. Martinha Maia recorreu, assim, ao grego para dar a ideia de pele densa e espessa, que é preciso atravessar para se perceber de que material somos feitos, numa alusão ao famoso método de coloração tano-férrico criado por Abel Salazar.
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