Tal como a exposição homónima que esteve na sua origem – e patente, em 2022, na Casa Comum, no edifício da Reitoria da Universidade do Porto –, a fanzine Mulheres que fazem barulho pretende homenagear as carreiras musicais de 16 mulheres que fizeram a história do rock português, desde o pós-25 de abril até à atualidade.
Falamos de Ana da Silva (The Raincoats), Anabela Duarte (ex-Mler Ife Dada), Ondina Pires (Pop Dell’Arte, Ezra Pound & A Loucura e Great Lesbian Show), Ana Deus (Três Tristes Tigres e Osso Vaidoso), Beatriz Rodrigues (Dirty Coal Train e Tiger Picnic), Manuela Azevedo (Clã), Xana (Rádio Macau), Cláudia Guerreiro (baixista dos Linda Martini), Lena d’Água, Marta Abreu (Voodoo Dolls e Mão Morta), Sandra Baptista (Sitiados e A Naifa), Carolina Brandão (Sunflowers), Elsa Pires (Bee Keeper), Mariana Santos, Dulce Moreira e Ana Clément (CRudE).
A iniciativa foi de Ondina Pires, ela própria uma das homenageadas na exposição. Para além do sucesso que conseguiu como baterista, vocalista e compositora, Ondina Pires tem também vindo a afirmar-se nas artes gráficas e plásticas, com ilustrações e banda desenhada publicadas. A fanzine não é, pois, de todo estranha para esta pioneira do punk rock português.
Resultado da colaboração entre a Casa Comum, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto e a U.Porto Press, esta fanzine conta ainda com textos de Paula Guerra – docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (U.Porto), investigadora do Instituto de Sociologia e curadora da exposição.
Mulheres que fazem barulho procurou retratar cenas do rock português no feminino através de objetos icónicos que marcaram os percursos profissionais e as trajetórias individuais destas artistas: vestidos de Manuela Azevedo, Lena D’Água e Anabela Duarte – que, como conta Paula Guerra, “marcaram uma revolução estética na sociedade portuguesa” –; a guitarra acústica de Xana e o “eterno acordeão” de Sandra Batista – símbolos da “emancipação e [d]a aventura da mulher na criação musical”, destronando a ideia de que “apenas os homens poderiam ser músicos excecionais” –; a baqueta de Carolina Brandão, os collants rasgados de Beatriz Rodrigues e os adereços usados em palco por Mariana Santos, Dulce Moreira e Ana Clément, expondo “a entrega e a paixão nos e pelos palcos”; batons; discos e cassetes; pautas; luvas de boxe…
Estas mulheres “trouxeram com elas ventos de mudança – de uma experimentação e provocação sem limites, de uma extravagância que tinha como objetivo mostrar que há sempre formas diferentes de ver e fazer as coisas”, afirma Fátima Vieira.
À semelhança da exposição, dividida em quatro “quadros temáticos”, o título Mulheres que Fazem Barulho está organizado em quatro capítulos, que compõem a narrativa de vida das 16 artistas homenageadas.
O primeiro – “Viver Depressa, Morrer Tarde” perpassa os “trajetos a atividades profissionais longos e bem-sucedidos, dentro e fora do mundo da música”, de Ana da Silva, Anabela Duarte e Ondina Pires. Segue-se “Berrar Mais Alto”, dedicado a Ana Deus, Beatriz Rodrigues, Manuela Azevedo e Xana, “mulheres carismáticas – músicas, cantoras, performers ou intérpretes, instrumentistas, compositoras – que deixaram marcas da sua voz nas cenas do rock português”. “Cansei de Ser Sexy” leva-nos até Cláudia Guerreiro, Lena D’Água, Marta Abreu e Sandra Batista, que “recusaram a imagem estereotipada e objetificada que as cenas do rock lhes queriam impor”. A viagem pelo panorama musical português no feminino termina com “Sementes do Futuro”, as “irreverentes, artísticas e urbanas” Carolina Brandão, Elsa Pires, Mariana Santos, Dulce Moreira e Ana Clément, que, rasgando “o seu caminho”, são “promessas da música e do que está por vir”.
Como defende Paula Guerra, estas “Mulheres que fazem barulho representam tudo o que aconteceu, tudo o que poderia ter acontecido: mas também tudo o que virá a acontecer. São a cara de uma revolução em devir incessante”.
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