MULHERES DE SHAKESPEARE, da U.Porto Press, levado à cena na Casa das Artes de Famalicão e no Teatro Helena Sá e Costa, no Porto

MULHERES DE SHAKESPEARE, da U.Porto Press, levado à cena na Casa das Artes de Famalicão e no Teatro Helena Sá e Costa, no Porto

Miranda e Áriel. São estas as personagens do enredo de Mulheres de Skakespeare, peça assinada por Fátima Vieira – Vice-Reitora da Universidade do Porto para a Cultura e Museus, responsável pela U.Porto Press e Professora Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade do Porto – e Matilde Real, dramaturga, criadora e intérprete em projetos de artes performativas.
Quem conhece a obra dramática de Shakespeare facilmente reconhecerá as personagens da última peça que o Bardo escreveu, A Tempestade. Áriel cumpre, contudo, nesta peça de Fátima Vieira e Matilde Real, uma nova missão: ensinar Miranda a entender “o que é isto de ser mulher”.

Mulheres de Shakespeare resultou de uma encomenda do Ensemble – Sociedade de Actores, com especificações claras e título definido. A peça é agora publicada pela U.Porto Press, na sua coleção Fora de Série, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

Mulheres de Shakespeare andará em digressão pelo país, começando na Casa das Artes, em Famalicão (dias 21, 22 e 23 de setembro), e terminando em Lisboa, no Teatro Municipal São Luiz. Estará em exibição no Porto, no Teatro Helena Sá e Costa, de 11 a 14 de outubro.

AS (NOVAS) MULHERES DE SHAKESPEARE

Apesar de marcantes, os papéis das mulheres nas obras de Shakespeare encontram-se, regra geral, em segundo plano face aos dos homens, que se afirmam dominantes. Na verdade, no Renascimento inglês as mulheres não podiam sequer apresentar-se em cena, sendo todos os papéis femininos representados por rapazes.

“Mas, e se fizéssemos um exercício diferente: dar protagonismo ao ‘feminino’ não na lógica da dominância que é associada às personagens masculinas, mas numa visão do mundo e dos acontecimentos através de um outro olhar?” – sugere Carlos Pimenta, encenador desta peça, no Prefácio que assina para o livro.
“Foi este o desafio lançado a Fátima Vieira e a Matilde Real: revisitar as mulheres de Shakespeare e dar a ver esse ‘espírito feminino’”. E comenta: “A tarefa era exigente, mas o resultado é surpreendente”, já que as autoras compuseram “uma verdadeira peça, de trama engenhosa (…)”.

Respondendo ao desafio, em Mulheres de Shakespeare Fátima Vieira e Matilde Real colocaram a hipótese de Próspero encomendar a Áriel uma tarefa que não é referida na peça do dramaturgo inglês: ajudar Miranda a compreender o papel que deverá desempenhar, enquanto mulher. Para o efeito, Miranda terá de estudar atentamente as comédias e tragédias que Shakespeare escreveu para o palco.

“Partimos de uma pergunta: e se um dos livros de Próspero, por onde Miranda estuda, fosse o Primeiro Fólio (…)?”, revela Fátima Vieira, explicando que, ao criarem um novo enredo – cenas paralelas às que Shakespeare descreve na sua peça –, puseram Miranda a ler, efetivamente, todo o Primeiro Fólio: “Tomámos empresta­das as palavras de 16 peças de Shakespeare — e também do longo poema Vénus e Adónis”, esclarece Fátima Vieira. Segundo a autora, é assim que Miranda evolui como personagem: “deixando-se habitar por múltiplas vozes para, no final, se esvaziar e poder ser ela própria”.

No final da jornada de aprendizagem, Miranda “proclama a sua descoberta (…) a sua vocação para a liberdade, em tudo semelhante à de Áriel”.

Para Matilde Real, esta peça afirma-se como “um exercício de ousadia em que as personagens questionam quem as escreveu”. E vai mais longe: Mulher de Shakespeare é “quem tem a liberdade para transformar as palavras de Shakespeare, mudar-lhes o género, dobrar as frases em perguntas, virar do avesso as afirmações, reconfigurar os enredos, dar à luz personagens e compor cada momento como bem lhe aprouver”.

SOBRE AS AUTORAS

Fátima Vieira é Vice-Reitora da Universidade do Porto para a Cultura e Museus, responsável pela U.Porto Press e Professora Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), onde leciona desde 1986. É coordenadora do Polo do Porto do CETAPS — Centre for English, Translation and Anglo-Portuguese Studies, onde lidera a área de investigação Mapping Dreams. No CETAPS é também membro da área de investigação Shakespeare and the English Canon: History, Criticism, Translation, para a qual produziu traduções anotadas das peças de Shakespeare A Tempestade e Como vos Aprouver, estando a ultimar a tradução de Júlio César.

Matilde Real é dramaturga, criadora e intérprete em projetos de artes performativas com grupos e comunidades transversais. Trabalha com a palavra, dita e escrita, e interessa-se por criar a partir de encontros e mergulhos nas vidas dos outros. Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e na Universidade de Warwick. Em 2017 concluiu, no Goldsmiths College, Uni­versidade de Londres, um Mestrado em Teatro Aplicado, Drama em Contextos Educacionais, Comunitários e Sociais. Tem realizado vários projetos nas áreas da dramaturgia, interpretação e vídeo.

Este título está disponível na loja online da U.Porto Press, com um desconto de 10%.

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