Bonecos de Barcelos. Identidade, Tradição e Criação Artística retrata a exposição homónima, patente na Reitoria da Universidade do Porto (U.Porto) – galerias da Casa Comum – entre 13 de novembro passado e o próximo dia 4 de março.
A sessão de apresentação deste Catálogo, publicado na coleção Atelier da U.Porto Press, está marcada para 4 de março, pelas 18h00, no Auditório da Casa Comum (à Reitoria da U.Porto).
O painel de oradores será composto por Fátima Vieira, Vice-Reitora da U.Porto para a Cultura, Museus e U.Porto Press, que presidirá à sessão, pelos Arquitetos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, comissários da exposição, e por João Leal, Professor de Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL) e investigador do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (FCSH-UNL).
A entrada é livre.
OS BONECOS DE BARCELOS NA UNIVERSIDADE DO PORTO
São, agora, cerca de 700 os exemplares que integram a coleção histórica de figurado de Barcelos do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP). Para esta coleção, testemunha da arte popular minhota, muito contribuíram os Arquitetos e professores eméritos da Faculdade de Arquitectura da U.Porto, Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, que em 2022 doaram quase 600 peças das suas coleções particulares ao MHNC-UP.
Especificamente a respeito da coleção de Alexandre Alves Costa, que doou quase 500 exemplares de um total aproximado de 760 em sua posse, João Leal, afirma tratar-se de “uma coleção que privilegia o figurado de Barcelos, com relevo para as peças da autoria de Rosa Ramalho”.
Ainda no contexto desta tradição cerâmica, dos arquivos do MHNC-UP fazem também parte as ilustrações realizadas por Aurélia e Sofia de Sousa, bem como algumas provas fotográficas dos objetos por elas ilustrados, explica Rita Gaspar, curadora das coleções de Arqueologia, Etnografia e Antropologia biológica do Museu, no texto que assina no Catálogo.
Para Rita Gaspar, “A coleção histórica de figurado de Barcelos do MHNC-UP permite (…) um vislumbre da produção desta arte popular entre as décadas de 1930 e 1950, bem como do papel da cultura popular na definição de uma identidade nacional”.
O RELEVO DO FIGURADO PARA ALEXANDRE ALVES COSTA E SÉRGIO FERNANDEZ
No seu texto conjunto publicado no Catálogo Bonecos de Barcelos. Identidade, Tradição e Criação Artística, Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez afirmam gostar de divulgar o figurado de Barcelos “como obra de arte e não como objeto de investigação antropológica ou etnográfica, colocando-o, assim, no território da História da Arte”.
Numa primeira parte da exposição, os dois Arquitetos começaram por selecionar alguns documentos “que representam, simbolicamente, os diversos caminhos percorridos na busca do verdadeiro carácter ou especificidade do nosso país”. Contextualizando as coleções expostas na dinâmica identitária nacional das décadas de 1950 e 1960, os Arquitetos recuam até aos seus 20 anos, época em que foram “ver o Portugal por montes e vales (…), do Alto Minho a Trás-os-Montes e ao Alentejo, deslumbrados e revoltados, esmagados pelo paradoxo da beleza e da autenticidade sem retoques e da miséria, da falta de instrução e de cuidados de saúde, tantas vezes sem garantia da própria sobrevivência”.
E assim chegaram ao figurado de Barcelos: frequentavam “as barracas que o vendiam em algumas feiras”, explicitando que, “paralelamente à produção em série e utilizando formas”, algumas artistas – designadamente Rosa Ramalho, Teresa Mouca ou Rosa Côta – produziam manualmente “obra própria”, nalguns casos “ao serão”, com o objetivo de “aumentar os parcos recursos que auferiam nas ‘fábricas’”. As suas “idas à região de Barcelos” passavam-se em contacto direto com os artistas e o seu trabalho.
Foi seu propósito mostrar na exposição os dois tipos referidos “que, nas feiras, começavam a ser expostos separadamente, sendo que os bonecos manuais apresentavam, muitas vezes, uma delicadeza de elaboração (…)”.
Como detalha Isabel Maria Fernandes, do Museu de Alberto Sampaio/Museus e Monumentos de Portugal, no seu artigo “No Minho, as mulheres fazem-se de barro (Barcelos)”, integrado no Catálogo, apesar de o figurado ter começado por ser “uma arte de mulheres”, uma “atividade lúdica, servindo para as crianças brincarem”, “social e economicamente menos valorizada do que a olaria”, na segunda metade do século XX assistiu-se a uma “inversão de valores”, já que a olaria passou a “ser menos procurada, a perder utilidade, e o figurado, pelo contrário, começa a ter novos mercados e a ser valorizado”, passando a ser “uma profissão realizada a tempo inteiro por homens e mulheres”.
Os dois Arquitetos fazem, também, questão de mencionar a influência do Professor António Quadros, “o primeiro colecionista de figurado”, que, notam, “chamou a atenção para uma expressão de arte popular, bastante conhecida e muito pouco valorizada”, assinalando, ainda, o seu “deslumbramento (…) pelo figurado de Barcelos, sobretudo pela produção de Rosa Ramalho (…)”.
O CATÁLOGO
Para além dos contributos já referidos de Alexandre Alves Costa, Sérgio Fernandez, João Leal, Maria Isabel Fernandes e Rita Gaspar, o Catálogo integra textos da autoria do Reitor da U.Porto, António de Sousa Pereira, José Carlos Pereira (FBAUL/CIEBA), Rita Maia Gomes (IHA NOVA FCSH/IN2PAST) e Sónia Vespereira de Almeida (CRIA/ FCSH – UNL/IN2PAST).
Inclui, ainda, fotografias das peças, de Egídio Santos, bem como diversas capas de revistas e publicações, fotografias dos locais e populações visitados pelos Arquitetos, de quadros das suas coleções, plantas e desenhos vários.
Bonecos de Barcelos. Identidade, Tradição e Criação Artística está disponível na loja online da U.Porto Press, com um desconto de 10%.