Finding a Place to Land, o quarto e último evento do festival “Teoria das 6 cordas” traz-nos Hugo Simões, guitarra, e Nádia Carvalho, eletrónica, para um concerto multimédia resolutamente virado para os sons da contemporaneidade e que não podia ser mais adequado ao espaço em que se realiza, até porque duas das obras apresentadas foram compostas tendo o espaço como temática.

É o caso de Serenata per un Satéllite, de Bruno Maderna, escrita aquando do lançamento do satélite ESTRO I, em 1969, e de Dreaded Sea Voyage, de Andrew Staniland, inspirado pela entrada da Voyager I no espaço interestelar, em 2012. No caso da primeira, temos o exemplo de uma “obra aberta”, que pode aliás ser tocada com diversa instrumentação, e em que alguns parâmetros de execução são deixados à discrição do executante; no caso da segunda, escrita para guitarra e incorporando segmentos áudio previamente preparados, a peça teve como génese a manipulação das gravações que seguiram na Voyager, assim inspirando o desenvolvimento da composição.

O “espaço” presente na composição Where Shadows Do For Bodies Stand, de Natasha Barrett, não será o espaço sideral, mas antes a espacialização sonora. A inspiração para esta peça vem de uma obra do compositor e alaudista John Dowland, embora a ligação não seja óbvia para quem conhece Can She Excuse My Wrongs, o que se explica talvez pelo facto de se pretender apenas uma “reinterpretação da atmosfera” corporizada na composição dos finais do século XVI.
De regresso ao conforto da tonalidade, o espetáculo encerrar-se-á com Electric Counterpoint, composição de Steve Reich escrita para Pat Metheny, e que é resultado de gravações sequenciais de guitarra; impossibilitado de se dividir em mais do que uma dezena de guitarristas, será sobre a sequência pré-gravada que Hugo Simões executará a linha final, o que já não é pequena proeza.

Note-se, finalmente, que Finding a Place to Land é mais do que a soma das suas músicas: os seus criadores pretendem que seja o fio condutor para a construção de um objeto artístico unitário, onde música e imagem se fundem em poesia transdisciplinar para despertar consciências e alertar para as fragilidades do mundo contemporâneo. A projeção de vídeos, combinada com efeitos predefinidos – de acordo com a evolução do discurso musical – tem como fim último sensibilizar o público para duas questões-chave no nosso mundo: a crise climática e o problema dos refugiados.

PROGRAMA
Bruno Maderna –Serenata per un Satéllite
Natasha Barrett –Where Shadows Do For Bodies Stand
Andrew Staniland – Dreaded Sea Voyage
– 1. Stephen Hawking says we must flee Earth
– 2. Gravity pulls us down
– 3. Dread of the impending sea voyage
Steve Reich –Electric Counterpoint
– 1. Fast
– 2. Slow
– 3. Fast

Hugo Simões nasceu em 1975, iniciando os seus estudos musicais no Orfeão de Leiria sob a orientação do professor José Mesquita Lopes. É licenciado em Música – Guitarra pela Universidade de Aveiro, sob orientação de Joseph Zsapka e Paulo Vaz de Carvalho, e pós-graduado em Ciências da Educação pela Universidade de Aveiro.
Tem uma vasta experiência como guitarrista e docente. Como guitarrista, apresentou-se a solo e integrou várias formações de música de câmara em Portugal, Espanha, França, Itália e México.
Atualmente é professor de guitarra no Curso de Música Silva Monteiro (Porto) e no Conservatório de Música de Aveiro Calouste Gulbenkian.

Nádia Carvalho, nascida em 1994, começou os seus estudos musicais em 2005 na Academia de Música de Costa Cabral, na classe de saxofone de Gilberto Bernardes. Mais tarde, viria a ter como professores Guilherme Bogas, André Ramos e Francisco Ferreira, com quem acabou o 8.º grau, em 2012.
Licenciada em Composição pela Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo do Instituto Politécnico do Porto (ESMAE/IPP, 2015) estudou com Dimitris Andrikopoulos, Filipe Vieira e Fernando Lapa, entre outros. Frequentou a Royal School of Music, em Estocolmo, no âmbito do programa ERASMUS.
Concluiu em 2020 o mestrado integrado em Engenharia Informática e Computação na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) com uma dissertação sobre informática musical.
Além da sua atividade docente, mantém atividade como saxofonista, sendo membro da Banda Filarmónica da Foz do Douro, do Grupo de Jazz da FEUP e da Orquestra Clássica da FEUP, que lhe encomendou uma obra que foi por si estreada em 2016.

Entrada livre, sujeita à lotação dos espaços

+ INFO: https://noticias.up.pt/universidade-do-porto-retoma-festival-de-guitarra-classica/

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PROGRAMA DO CICLO

• 21 OUT’22 | 21h30 – Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto
  Seis cordas dos Séculos XX e XXI // Abertura e Recital de Francisco Berény Domingues
• 22 OUT’22 | 18h00 – Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva
  Jogo de Espelhos – 3 Séculos e 2 Continentes // MP Guitar Duo
• 27 OUT’22 | 21h30 – Casa Comum, Reitoria da Universidade do Porto
  Memórias de Temas Italianos e Espanhóis a 88 Teclas e 6 Cordas // Duo Vannuci-Torrigiani
• 28 OUT’22 | 21h30 – Planetário do Porto – Centro Ciência Viva
  Finding a Place to Land: Guitarra, Eletrónica e Vídeo // Hugo Simões e Nádia Carvalho

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Direção Artística: Francisco Berény Domingues
Organização: Universidade do Porto e Curso de Música Silva Monteiro
Teoria das 6 Cordas é a 2.ª edição do Festival de Música com Curadoria Jovem