Um “livro rebelde” em torno da mentalidade meritocrática que dominou as sociedades ditas desenvolvidas, que, nas palavras do autor, “propõe algumas ideias sobre como se poderia alcançar uma sociedade amiga das crianças”. Assim se poderá definir Protejam as Crianças da Meritocracia: Uma Questão de Sobrevivência da Humanidade.
Esta é a mais recente publicação da U.Porto Press na coleção Estudos e Ensino, que tem como público-alvo estudantes, investigadores e docentes do ensino superior.
Segundo António Alves Ferreira, autor do livro e investigador do Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a obsessão com a inovação, o crescimento económico, as métricas ou a competitividade conduzem “a uma crise sem precedentes”, resultante da meritocracia. Sendo esta mentalidade imposta às crianças, pela via da educação, “agravamos os problemas sociais, económicos e ambientais”. É esta situação que urge mudar, como defende o autor.
A MENTALIDADE MERITOCRÁTICA E UM MANIFESTO PARA A MUDANÇA
Para ir de encontro às questões centrais debatidas nesta publicação, tomemos como ponto de partida as próprias palavras de António Alves Ferreira, conforme argumenta no seu Prefácio: “A prioridade fundamental das sociedades contemporâneas deve ser proteger o futuro das gerações futuras, que são as nossas crianças”.
A partir desta premissa, o autor levanta questões como “E o que pode ser uma sociedade melhor, se não uma sociedade amiga das crianças, (…) uma sociedade que protege e estimula, ama e brinca com as suas crianças?”, “Será (…) a meritocracia a melhor mentalidade para definir o que é benéfico para os jovens?”, “É a meritocracia efetivamente amiga das crianças?”. Ou, ainda, uma outra questão que considera central para uma reflexão sobre como chegar a essa sociedade que procura: “o que é ser-se amigo de alguém?”.
Para António Alves Ferreira, “a definição de amizade em que acreditamos está necessariamente ancorada na nossa maneira de ver o mundo, isto é, naquilo a que este livro chama de ‘mentalidade’”. E, na sua opinião, a amizade que a meritocracia poderá dedicar às crianças passa por forçá-las a tornarem-se meritocratas. Daqui que a sua resposta às questões acima colocadas, relativas aos benefícios da meritocracia, seja “um rotundo não”.
O autor vai mais longe, considerando que a meritocracia “está a arrastar a humanidade para um abismo e a condenar as crianças à miséria”. Fala, ainda, em sociedades divididas por uma dicotomia entre arrogância e arrogantes e ressentimento e ressentidos, responsabilizando os sistemas meritocráticos pelo “aparecimento de pessoas simultaneamente envenenadas pela arrogância e pelo ressentimento”, já que “ao mesmo tempo que olham com desprezo para aqueles que conseguem ultrapassar, olham com mágoa (…) aqueles que os ultrapassaram”.

Não obstante, António Ferreira ressalva que a sua obra não está contra quem abraçou a mentalidade meritocrática, sendo, antes, “uma tentativa de promover uma mudança de mentalidades”. Advoga não ver mal “numa dose justificada de mérito como princípio orientador de algumas decisões ou processos muito específicos”, se tal se justificar “por razões bem ponderadas”.
Ciente de que as suas ideias podem ser vistas por muitos como “controversas e até perigosas”, neste volume o autor convida a repensar as métricas do sucesso e do progresso, na senda de “uma aproximação mais humana e sustentável ao desenvolvimento das sociedades”, nas quais prevaleça “o valor de cada pessoa, para além das suas conquistas e competências”.
Protejam as Crianças da Meritocracia: Uma Questão de Sobrevivência da Humanidade será apresentado publicamente a 20 de novembro, a partir das 18h00, no Auditório da Casa Comum (à Reitoria da U.Porto).
Este título está disponível na loja online da U.Porto Press, com um desconto de 10%.
SOBRE O AUTOR
António Alves Ferreira é licenciado em Engenharia Civil pela Universidade de Coimbra, mestre em Planeamento e Projecto do Ambiente Urbano pela Universidade do Porto e doutorado em Planeamento Urbano e de Transportes pela Universidade de Liverpool. Dedica-se, atualmente, à investigação no Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, tendo como principais áreas de interesse a teoria e prática do planeamento urbano e de transportes, o futuro das cidades e das acessibilidades e as cidades amigas das crianças. O seu trabalho reúne perspetivas diversas através de experiências em terras europeias como Holanda, Alemanha, Reino Unido e Noruega.