U.Porto Press edita livro sobre epidemia de peste bubónica de 1899

U.Porto Press edita livro sobre epidemia de peste bubónica de 1899

Porto: A Epidemia de Peste de 1899. Circunstâncias e Consequências. Assim se designa um dos mais recentes títulos da U.Porto Press, o número dois da nova coleção Estudos e Ensino da Editora da Universidade do Porto, editado este mês.

Ao longo de quatro partes, 17 capítulos e mais de 400 páginas, João Martins e Silva, que foi Professor Catedrático e diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Medicina, em 1967, aborda a peste bubónica que assolou a cidade do Porto, em maio de 1899. A terminologia utilizada, desde logo, nos títulos e subtítulos dos capítulos soa contemporânea: pandemia, bactéria, imunização, isolamento, confinamento, cordão sanitário, morbilidade ou mesmo mortalidade, que também caraterizaram este período da história.

Conforme explica J. Martins e Silva no prefácio desta obra, a peste bubónica “entrara discretamente na cidade do Porto para, célere, conduzir a uma difícil situação clínica e socioeconómica”. Esta doença contagiosa marcou o final do século XIX não só em Portugal, onde “as endemias e epidemias (…) não faziam pausa”, mas também em diversos outros pontos da Europa e do mundo. “A cidade do Porto foi a última cidade da Europa a ser atingida no final do século XIX por uma epidemia de peste bubónica, cerca de trezentos anos depois de abalada pela mesma doença. O novo surto local ocorreu no início da terceira pandemia de peste bubónica, iniciada na China em 1894, causada pela bactéria Yersinia pestis, ainda identificada nesse ano”, explica o autor.

Em Porto: A Epidemia de Peste de 1899. Circunstâncias e Consequências J. Martins e Silva descreve três fases de desenvolvimento da epidemia: a primeira, relativa à identificação dos primeiros casos da doença, ainda sem diagnóstico confirmado, e à aplicação de medidas sanitárias imediatas; a segunda iniciou-se aquando da confirmação bacteriológica da peste, em julho de 1889, e posterior instauração daquele que viria a ser “um polémico cordão sanitário de imposição governamental”, que, ainda assim, “conseguiu conter a epidemia num semestre com um relativo baixo número de infectados e mortes na cidade do Porto, e com contágio exterior irrelevante”. Esta medida provocou “um amplo período de controvérsias, contestações, danos económicos e sociais, e efeitos políticos nacionais e internacionais”. A terceira fase correspondeu ao “desfecho do flagelo” e “progressiva mitigação das constrições impostas”.

Segundo alguma imprensa local, que numa fase inicial acompanhou os acontecimentos “laconicamente”, sem lhes atribuir “aparente significado”, a crise socioeconómica e política terá resultado das contradições e deficiente resposta governamental.
Também o autor considera “consequências da inércia e erros do Governo” a “vaga acelerada de desemprego, fome e desespero da população residente e periférica”, que, por sua vez, conduziu a grandes ajuntamentos públicos, indisciplina e, mesmo, atos agressivos contra médicos e pessoal interveniente em ações sanitárias.

A situação começou a normalizar no final do mesmo ano. Contudo, e tal como também revela J. Martins e Silva, “Após ser oficialmente considerada extinta, novos focos de peste ainda surgiram no Porto e arredores”.

SOBRE O AUTOR

João Alcindo Pereira Martins e Silva, natural de Lisboa (1942), licenciou-se em medicina (1967) na Universidade de Lisboa, após o que foi convidado para assistente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lourenço Marques, onde desenvolveu trabalhos de investigação e se doutorou (1973). Antes estagiou no estran­geiro, como bolseiro de pré-doutoramento da Fundação Calouste Gulbenkian, designadamente em Seattle, Universidade de Washington (1970/71). Após o serviço militar em Moçambique (1972-1975) prosseguiu a carreira académica (professor auxiliar, extraordinário e catedrático) na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL). Dirigiu o Instituto de Química Fisiológica, depois integrado no de Bioquímica, e prosseguiu projetos de investigação científica, até se aposentar (2005). Foi subdiretor (1991-1994) e diretor da FMUL (1994-2005), e presidente de duas sociedades médicas nacionais (Educação Médica, 1991-2003; Hemorreologia e Microcirculação, 1987-1994). Dedica-se, desde a aposentação, a temas da História da Medicina e à pintura. É autor de centenas de publicações, entre artigos científicos, ensaios, editoriais, e de mais de uma dezena de livros.

Este título está disponível na loja online da U.Porto Press.

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