Protejam as Crianças da Meritocracia: Uma Questão de Sobrevivência da Humanidade veicula ideias que podem ser vistas por muitos como “controversas e até perigosas”, admite António Alves Ferreira, autor da publicação e investigador do Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente (CITTA) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).
Neste volume o autor convida a repensar as métricas do sucesso e do progresso, na senda de “uma aproximação mais humana e sustentável ao desenvolvimento das sociedades”, nas quais prevaleça “o valor de cada pessoa, para além das suas conquistas e competências”.
Esta publicação da U.Porto Press, que deixa propostas na senda de uma sociedade amiga das crianças, será apresentada publicamente no próximo dia 20 de novembro, a partir das 18h00, no Auditório da Casa Comum (à Reitoria da U.Porto).
A apresentação ficará a cargo do próprio autor, António Alves Ferreira. Seguir-se-á um debate moderado por Sara Cruz – Professora Auxiliar da FEUP e anfitriã do evento –, subordinado ao tema da meritocracia em Portugal. Este debate contará com intervenções de Fátima Vieira, Vice-Reitora da U.Porto para a Cultura e responsável pela U.Porto Press, Paulo Pinho, Professor Emérito da U.Porto, e Pedro Camanho, Professor Catedrático de Mecânica Aplicada da FEUP.
A entrada é livre.
A OBRA: OS SISTEMAS MERITOCRÁTICOS E AS SUAS IMPLICAÇÕES NA SOCIEDADE
“A prioridade fundamental das sociedades contemporâneas deve ser proteger o futuro das gerações futuras”, defende António Alves Ferreira.
Contudo, a mentalidade meritocrática que dominou as sociedades ditas desenvolvidas traduz-se numa obsessão com a inovação, o crescimento económico, as métricas e a competitividade, que conduzem “a uma crise sem precedentes”.
E, sendo esta mentalidade imposta às crianças, pela via da educação, “agravamos os problemas sociais, económicos e ambientais”.
Neste contexto, António Ferreira levanta questões como “E o que pode ser uma sociedade melhor, se não uma sociedade amiga das crianças, (…) uma sociedade que protege e estimula, ama e brinca com as suas crianças?”; “Será (…) a meritocracia a melhor mentalidade para definir o que é benéfico para os jovens?”; “É a meritocracia efetivamente amiga das crianças?”.
A sua resposta acerca dos benefícios da meritocracia é “um rotundo não”.
O autor vai mais longe, considerando que a meritocracia “está a arrastar a humanidade para um abismo e a condenar as crianças à miséria”. Fala, ainda, em sociedades divididas por uma dicotomia entre arrogância e arrogantes e ressentimento e ressentidos, responsabilizando os sistemas meritocráticos pelo “aparecimento de pessoas simultaneamente envenenadas pela arrogância e pelo ressentimento”.
Para António Alves Ferreira, “As pessoas que abraçam a mentalidade meritocrática têm muita dificuldade em pensar em soluções, porque o que realmente as preocupa é a sua própria capacidade de afirmação. E é preciso mudar isso”, afirma.
Não obstante, ressalva que a sua obra não está contra quem abraçou a mentalidade meritocrática, sendo, antes, “uma tentativa de promover uma mudança de mentalidades”. Advoga não ver mal “numa dose justificada de mérito como princípio orientador de algumas decisões ou processos muito específicos”, se tal se justificar “por razões bem ponderadas. O que não pode acontecer é que a meritocracia domine, como rei absoluto e soberano, as nossas sociedades”.
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SOBRE O AUTOR
António Alves Ferreira é licenciado em Engenharia Civil pela Universidade de Coimbra, mestre em Planeamento e Projecto do Ambiente Urbano pela Universidade do Porto e doutorado em Planeamento Urbano e de Transportes pela Universidade de Liverpool. Dedica-se, atualmente, à investigação no CITTA/FEUP, tendo como principais áreas de interesse a teoria e prática do planeamento urbano e de transportes, o futuro das cidades e das acessibilidades e as cidades amigas das crianças.