A Crise da Europa, obra publicada originalmente em plena II Guerra Mundial, expõe as reflexões de Abel Salazar – histórico médico, investigador e professor catedrático da Universidade do Porto (U.Porto) – perante uma Europa em declínio, em meados do século XX.
Um Estio na Alemanha, também da década de 40 do século XX, relata, na primeira pessoa, passagens de Abel Salazar pela Alemanha, Espanha, Bélgica e Holanda.
Depois de Paris em 1934 e Testamento de Um Morto Vivo Sepulto na Casa dos Mortos, em Barcelos, ambas publicadas em 2022, estas duas obras de Abel Salazar foram, também, coeditadas pela Casa-Museu Abel Salazar e pela U.Porto Press, juntando-se, em 2024, à coleção Pensamento, Arte e Ciência da Editora da U.Porto, dedicada à edição e reedição de obras de Abel Salazar.
O duplo lançamento das reedições de A Crise da Europa e Um Estio na Alemanha decorrerá no próximo dia 27 de novembro, a partir das 17h00, no Círculo Universitário do Porto (Rua do Campo Alegre, 877 | 4150-180 Porto).
A apresentação de A Crise da Europa ficará a cargo de Cláudia Pinto Ribeiro, Professora Associada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e investigadora integrada do Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória. A apresentação de Um Estio na Alemanha será conduzida por Maria de Fátima Outeirinho, Professora Associada da FLUP e Coordenadora Científica do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa.
A entrada é livre.
AS OBRAS E AS REFLEXÕES DE ABEL SALAZAR
Nas palavras de Maria Fernanda Rollo, no seu prefácio a esta nova edição, “Nada se diminui ou retira ao interesse histórico ou mesmo ao estímulo intelectual que A Crise da Europa encerra, nomeadamente pelas reflexões decorrentes das leituras, caracterizações e interpretações propostas por A. Salazar”.
Em A Crise da Europa Abel Salazar aborda a regressão europeia quer a nível económico, quer a nível político e social, defendendo que os problemas que a Europa então vive não poderiam ser resolvidos pelas teorias dos homens, mas antes pelas forças históricas.
Defendendo que a vontade, a razão e a emoção “são forças integradas no mecanismo da história, sem as quais mesmo o seu movimento seria impossível”, Abel Salazar conclui que a evolução histórica dependerá da “translação do espírito humano da fase não científica para a fase científica”, conduzindo o homem “da inconsciência para a consciência da sua história”.
Partindo do princípio de que o conhecimento científico da história pressupõe a utilização das suas forças em benefício da humanidade, dentro de certos limites, Abel Salazar aponta como previsível cenário futuro “que a humanidade possa elevar-se (…) a um nível social e moral incomparavelmente mais elevado do que o atual — tão elevado, relativamente, que ao Homem dessa época a história atual aparecerá como um conjunto de singulares paradoxos e de chocantes absurdos”.
Um Estio na Alemanha “reúne as impressões de duas viagens realizadas por Abel Salazar em diferentes momentos da sua vida: em 1913, a Berlim, e em 1933, a Madrid, bem como uma posterior passagem pela Bélgica e pela Holanda”, lê-se numa nota introdutória a esta reedição.
“No palor da manhã rosada, o Cap Blanco acosta lentamente ao cais de Cuxhaven. O Sol brilha, lampejando em dois capacetes prussianos, e a cidade, perdida na bruma matinal, não é ao longe mais do que um indeciso fantasma”. Assim anuncia Abel Salazar a sua chegada ao cais de Cuxhaven, situado numa cidade portuária do norte da Alemanha, em 18 de setembro de 1913, a bordo do navio a vapor “Cap Blanco”. E assim começa o primeiro capítulo desta obra – “Eis, Pois, Berlim e a Imperial Alemanha” –, as mesmas palavras com que Abel Salazar o remata e aguça o interesse do leitor para os seguintes.
No segundo capítulo, após as “primeiras impressões”, aborda tópicos como a “boémia berlinesa”, o “exotismo nórdico” ou “a apoteose imperial”.
O terceiro e último capítulo da obra é reservado às visitas de Abel Salazar a Madrid, Bélgica e Holanda.
Para além da reedição dos escritos, a U.Porto Press acrescentou à publicação diversos desenhos, postais enviados por Abel Salazar à mãe e à irmã e outros documentos relativos a estas viagens.
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