Descrição
Os livros têm o seu fado, como diziam os romanos. No dia em que este me chegou às mãos, ainda em documento word, a última coisa que eu poderia imaginar era que ele ia sair como livro póstumo. Nessa altura, Paulo Tunhas ainda fervilhava de ideias, evitava falar das penosas cirurgias a que fora submetido e, como sempre, trabalhava, trabalhava muito, fazia horas a todos os títulos extraordinárias. Tinha na forja, dizia, um outro livro. Entretanto, escrevera este: Filosofia. Sem mais.
“À sua maneira”, lê-se logo a princípio, o livro é “uma introdução à filosofia”. Mas é mais, muito mais que uma introdução no sentido usual do termo. É um pensamento singular e coerentemente estruturado, uma filosofia norteada pela ideia de sistema, expressa numa linguagem depurada e num despojamento de estilo que o título espelha na perfeição.
Aqui, o acessório foi rasurado, a erudição ficou de fora. Não resta senão o trapézio sem rede, suspenso na precisão dos conceitos e no rigor das inferências.
Começando pela questão das questões — o que é pensar? —, o autor retoma um tema kantiano há muito aflorado nos seus escritos: a diversidade das maneiras de pensar, consoante o campo de objectos a que se aplicam. Não se pensam os átomos como as obras de arte, ou os golpes de estado. Natureza, beleza e liberdade são campos distintos. Porém, a filosofia, sem elidir o que os separa, nem cair no delírio de um conhecimento sem vestígio de opacidade, aspira a articulá-los num todo. É dessa aspiração que nascem os sistemas. São esses os campos em que o pensar se ramifica.
A elegância literária e a clareza com que Paulo Tunhas os percorre, um por um, é algo a roçar o inexcedível.
Diogo Pires Aurélio