Alexandre Quintanilha apresentou “Que Coisa é o Mundo (O Estado Dogmático)”

Alexandre Quintanilha apresentou “Que Coisa é o Mundo (O Estado Dogmático)”

Foi perante uma plateia cheia que, nesta segunda-feira, 25 de outubro, Alexandre Quintanilha apresentou Que Coisa é o Mundo (O Estado Dogmático), de Manuel João Monte e Sofia Miguens, no auditório da Casa Comum, na Reitoria da Universidade do Porto (U.Porto).


Fátima Vieira
, Vice-Reitora da U.Porto para a Cultura, Museus e Editora, inaugurou a sessão, contextualizando esta publicação na coleção “Fora de Série”, uma das mais recentes das nove que atualmente compõem a U.Porto Press.

Nas suas palavras, “Se uma editora académica tem de ser uma montra de tudo aquilo que se faz na universidade, precisa de ter manuais, precisa de ter textos científicos, mas também precisa de dar voz a outras coisas que acontecem na Universidade, e que são comunicação de ciência, por um lado, e por outro lado o que fazem os nossos docentes e investigadores para além da sua profissão”. É o caso de Manuel João Monte e de Sofia Miguens, que fazem agora uma incursão no teatro através desta obra (e de outras, para o primeiro, igualmente editadas pela U.Porto Press), inserida numa das linhas da coleção “Fora de Série” (sendo as outras linhas Ficção e Poesia).

Acerca deste título em particular, Fátima Vieira destacou o seu contributo em termos pedagógicos, “porque se há coisa que queremos ensinar aos nossos estudantes é a dúvida. Se me pedissem para resumir este livro numa frase, eu diria que é o elogio da dúvida”.

QUE COISA É O MUNDO (O ESTADO DOGMÁTICO), POR ALEXANDRE QUINTANILHA

Alexandre Quintanilha, convidado para apresentar o livro, começou por caraterizá-lo como sendo “um texto cheio de uma ironia, às vezes subtil, outras vezes não tão subtil, e de provocações. Provocações ao poder instalado; ao Senado.” Também “uma crítica às visões binárias, à própria democracia (…), mas sobretudo àquilo que é à autocracia e a insegurança”.

“Isto é uma peça de teatro, com várias personagens, e em grande parte até os nomes são representativos de visões diferentes ao longo dos séculos. Ou de formas diferentes de pensar: pensar o ser humano, pensar a natureza, pensar o Universo, pensar a História, pensar o conhecimento”. Estas personagens são, em certa medida, “caricaturas de formas diferentes de olhar para aquilo que nós somos e aquilo que é o mundo à nossa volta, usando quatro grandes temas: a existência, ou não, de Deus, a existência, ou não, de nada, a questão dos números e a questão do vírus” – que, acrescentou em tom descontraído, “tinha de aparecer!”.

E é com recurso a vários exemplos da história da Ciência e da história da Filosofia – de grandes pensadores da história da Filosofia – que estes temas vão sendo introduzidos, por vezes também de foram subtil, outras de forma até surpreendente, ao revelarem linhas do pensamento dos filósofos que o leitor desconhecia e que, no fundo, representam a própria evolução do conhecimento. Nesta perspetiva, Alexandre Quintanilha defendeu que a obra “também apresenta as visões de diferentes escolas filosóficas e aquilo que é comum na forma como o conhecimento evolui”.

Segundo explicitou, o conhecimento evolui sempre em três passos: fazer perguntas, tentar responder (a chamada “hipótese”, em vários domínios da ciência; a narrativa, história ou mito, noutros domínios do conhecimento) e proceder à verificação da resposta encontrada. “As respostas mais interessantes sempre foram aquelas que resistem ao maior número de ataques”, argumentou.

A concluir a sua intervenção, Alexandre Quintanilha abordou, e enfatizou, o tema da “responsabilidade cidadã”: “A necessidade imensa que temos de que haja uma literacia cidadã para que aquilo que nós escolhemos para a forma como queremos viver, para a sociedade que queremos construir, seja baseado no conhecimento mais robusto que existe numa determinada altura”.

Quintanilha sublinhou, ainda, que “o livro acaba com dois temas importantes: a dúvida e a liberdade” e incitou a audiência a proteger “a liberdade de fazer perguntas; a liberdade de imaginar respostas”, fundamentais para o avanço do conhecimento.

Antes de terminar, Alexandre Quintanilha lançou um desafio aos autores: apresentarem, em 10 minutos, os objetivos que haviam presidido à redação e publicação do livro, e explicarem se consideravam tê-los cumprido. As respostas não se fizeram esperar.

COMO NASCEU ESTA OBRA

Sofia Miguens começou por destacar a importância de se comunicar o conhecimento, especialmente em contexto académico.

Enquanto partilhava que a preparação deste livro “a quatro mãos” também lhes proporcionara momentos mais lúdicos e, inclusivamente, ajudara a cimentar-lhes a amizade, Sofia Miguens deu conta de que o fizeram porque ambos estavam “um pouco aflitos com a questão do relativismo, pós-verdade, factos alternativos, desimportância da diferença entre a verdade e a mentira que carateriza, epistemologicamente, o nosso tempo; o pós-modernismo”. Escreverem o livro foi uma forma de procurarem respostas sobre o que fazer. “Também o escrevemos porque estamos interessados em saber o que temos em comum quando tratamos de conhecimento; quando fazemos Ciência, quando fazemos Filosofia, quando tentamos pensar racionalmente em conjunto. Por outro lado, fizemos este livro como um livro prático (…) porque acreditamos que há uma obrigação moral de ser claro e de comunicar.”

Sofia Miguens afirmou que o desafio foi abordar de forma simples e clara temas que têm um contexto mais complexo, que consideram importantes e que habitualmente, nos seus contextos profissionais, tratam mais seriamente.

“O nosso livro tem por trás a ideia do Manuel João [Monte]; deste paradoxo: fixar crenças por decreto. (…) A vontade e o desejo de haver alguém que nos diga no que acreditar”. A ideia de que o conhecimento venha já feito. “Respondendo ao Professor Quintanilha, esse cenário foi a forma de exercitarmos a nossa estupefação acerca dos estranhos rumos contemporâneos do conhecimento”, concluiu Sofia Miguens.

Manuel João Monte começou por revelar que a maior parte das ideias veiculadas através deste livro lhe surgiram ao assistir a eventos de divulgação de ciência. Apontou, também, a última lição do Professor Alexandre Quintanilha como fonte de inspiração, por exemplo por ter explicado aos seus alunos aquilo que era “o óbvio” – “o que, na altura, lhe agradeceram”. (…) Falamos disto no livro: o óbvio é um demónio, um enganador, e, portanto, cabe à ciência desmontar aquilo que parece óbvio”.

A ideia passou por escrever um livro sobre questões que ainda não têm resposta. O convite a Sofia Miguens surgiu porque “quando comecei a pensar no que queria escrever, deparei-me com problemas, nomeadamente filosóficos”. Confidenciou ainda que, apesar de uma ligeira hesitação inicial, “ela aceitou e arriscou! Arriscou mais ela do que eu”, porque iria entrar num domínio que não conhecia bem: o do teatro.

Manuel João Monte terminou referindo que estes livros não são necessariamente para ir ao teatro. “Os livros em diálogo leem-se por si só, com agrado. Usam linguagem simples, fogem das questões mais complexas para atingir a abrangência de leitores que não têm conhecimento suficiente para tratar os assuntos de uma forma mais complexa. Mas as perguntas estão lá!”.

No final da sessão, os presentes aproveitaram a presença dos autores para levarem para casa os seus livros – alguns acabados de adquirir – já autografados.

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Manuel João Monte, Sofia Miguens

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