Museu da Língua Portuguesa no Brasil

Após cinco anos, Museu da Língua Portuguesa reabre com instalações novas e se firma como referência cultural global.

Exatamente 2.050 dias depois de um incêndio destruir completamente o Museu da Língua Portuguesa, em um dos prédios icônicos da Estação da Luz, no centro de São Paulo, será possível novamente sentir a pulsação da língua de Luís de Camões.

O espaço, que recebeu 386 mil visitantes só em 2014, último ano antes do acidente, e encantou o público com exposições interativas e informações surpreendentes, vai ser reaberto ao público no dia 1º de agosto, um dia depois de uma cerimônia oficial que receberá três presidentes de países lusófonos — Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal, Jorge Carlos de Almeida Fonseca, de Cabo Verde, e Filipe Nyusi, de Moçambique. Também estarão presentes representantes de quase todos os outros lugares do mundo onde se fala português, numa demonstração da grande importância cultural do lugar. A ideia é que, ali, a pátria seja momentaneamente uma só: a língua. “Até porque ela é mais do que uma gramática ou do que a literatura, por exemplo. Ela é um objeto de todos nós”, reflete Isa Grinspum Ferraz, curadora especial do museu.

Quem conheceu o museu antes perceberá rapidamente as diferenças. A mais significativa delas é um terraço aberto de 262 metros quadrados no terceiro andar do prédio, onde um café funcionará ao lado de uma área de eventos. Projeto antigo da administração, ele levará o nome de Paulo Mendes da Rocha — arquiteto que desenhou as instalações antes da primeira abertura, em 2006, ao lado do filho, Pedro. Ele morreu em maio deste ano, aos 92 anos. Dali será possível ver outras construções famosas da maior cidade lusófona do mundo, como a estação Júlio Prestes, inaugurada em 1938, o Copan, projetado por Oscar Niemeyer e terminado em 1966, e o edifício Itália, finalizado um ano antes.

No mesmo andar ficará outra instalação nova, a “Falares”, onde os visitantes poderão ver e ouvir brasileiros de diversas regiões — entre eles, a cartunista paulistana Laerte, a cantora maranhense Alcione, o poeta mineiro Sérgio Vaz e o ator cearense Gero Camilo — expressando a variedade da língua portuguesa em leituras de textos, orações, rimas, canções, falas espontâneas e relatos pessoais. Todos eles foram trabalhados ao longo dos últimos meses pela slammer Roberta Estrela D’Alva e pelo escritor Marcelino Freire. Na mesma toada, a experiência “Nós da Língua Portuguesa” permitirá uma imersão na forma como o idioma é falado em toda a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). “O português é o jeito que olhamos para o mundo — e é um jeito próprio, diferente de quem fala francês ou inglês”, diz Isa Grinspum.

Experiências remanescentes do primeiro período também foram impactadas pelas mudanças sociais que ocorreram depois de 2015. A “Rua da Língua”, outrora um sucesso de público, agora tem um telão maior (106 metros), mas principalmente uma diversidade mais intensa de vozes. “Um museu da língua do colonizador também precisa ser crítico”, reflete a diretora técnica do museu, Marília Bonas. “Da pandemia de Covid-19 ao advento do meme, do movimento antirracista à crítica descolonial, todas essas coisas precisaram ser trazidas e englobadas nas novas exposições.” Outras instalações que já existiam antes são a “Palavras Cruzadas”, em que é possível descobrir a origem de milhares de palavras do idioma português, e a “Praça da Língua”, agora no terceiro andar, onde as vozes de poetas como Carlos Drummond de Andrade e de intérpretes como Maria Bethânia ecoam no ambiente. Na volta ao Museu da Língua Portuguesa, os visitantes deverão comprar os ingressos apenas pela Internet. Para atender as medidas de segurança por causa da Covid-19, o espaço fará rodízios a cada 45 minutos com grupos restritos a 40 pessoas.

Objeto em movimento

Para reconstruir o museu, o governo paulista precisou de pouco mais de cinco anos e de um montante de R$ 85,8 milhões, dividindo parte dos custos com a fundação Roberto Marinho, com o banco Itaú e com a companhia de energia elétrica portuguesa EDP. O telhado, consumido totalmente pelo fogo, manteve o projeto original de 1946. Naquele ano, a estação ficou quase completamente destruída também por um grande incêndio que deixou duas pessoas feridas. No acidente de 2015, houve uma morte: a do bombeiro civil Ronaldo Pereira da Cruz, de 39 anos. A ideia, no entanto, é que o museu logo deixe de ser apenas um lugar físico — e fique ainda menos suscetível a acidentes. “Ele será, assim como a língua, cada vez mais um objeto em movimento”, finaliza Isa.” (fonte: Blogue do IILP)

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