Como metáfora de adaptabilidade aos desafios e crises o BAMBU é o símbolo da RESILIÊNCIA na cultura Japonesa, pois perante a tempestade, a planta abana ao vento, mas não quebra. Rentabilizando esta perspetiva enquanto soft skill, a resiliência emocional é a capacidade de se restaurar após uma adversidade, trauma ou pressão, com flexibilidade e capacidade de evoluir. Isto é, perante as experiências permite-nos aprender com os erros, buscar alternativas e gerar recursos e soluções no percurso pela Universidade do Porto e transversalizáveis para a vida.
O ingresso no Ensino Superior representa um período particularmente exigente com um conjunto de mudanças e desafios. Cabe à Universidade, enquanto agente promotor da saúde, assegurar uma transição e adaptação bem-sucedidas ao contexto universitário. Desta forma procuramos criar condições facilitadoras de equidade e inclusão, tendo em vista a integração académica, sucesso académico e desenvolvimento integral dos nossos estudantes, determinantes para a promoção da saúde e bem-estar, quer através da mobilização dos recursos humanos internos, quer do estabelecimento de parceiras e protocolos de cooperação, potenciando o sentido de pertença na comunidade académica.
Esta perspetiva deu origem ao projeto de Promoção de Saúde Mental no Ensino Superior que resulta da metáfora do BAMBU aplicada à UP: “BAMBUP - BOOST, MEET & BLOOM AT UNIVERSITY OF PORTO". Este visa operar a transição da perspetiva remediativa, focada apenas em reduzir a psicopatologia já instalada, para uma abordagem preventiva e interdisciplinar do Modelo Stepped Care, facilitadora do acesso aos recursos de saúde mental e da resiliência psicológica, que evite o desenvolvimento de perturbações mentais. Passa por implementar medidas de inclusão e igualdade de oportunidades, superar fragilidades e não desistir do propósito. O BAMBUP resulta da auscultação de necessidades e valorização das associações de estudantes e Federação Acidémica do Porto (FAP) como agentes fulcrais na coconstrução do plano de atividades de promoção de uma saúde de qualidade, identificando os dirigentes associativos e estudantes como stakeholders, a atuar como interlocutores da comunidade académica, desde a fase de conceção das atividades, à sua implementação e avaliação.
Ao nível do objetivo geral, visa promover a resiliência psicológica e a literacia em saúde mental em estudantes do Ensino Superior, fomentar o networking e envolvimento dos pares, prevenir a psicopatologia e intervir a nível psicoterapêutico, assente no treino de soft skills intra e interpessoais, conducentes ao funcionamento adaptativo, com recurso a uma equipa interdisciplinar.
Os objetivos específicos remetem para o desenvolvimento da inteligência emocional através do treino da autoconsciência, autorregulação, motivação, empatia e habilidades sociais, desconstruir o estigma associado à doença mental, facilitar a busca proativa de intervenção psicológica, promover a adaptação sócio-emocional de estudantes deslocados e/ou em residentes, prevenir o dropout académico e fomentar a resolução de problemas, autoeficácia e orientação para objetivos.
De acordo com as diretrizes pela Comissão Técnica Portuguesa (Gago et al., 2023), os serviços de saúde mental e de promoção de bem-estar das instituições de ensino superior devem organizar-se de acordo com cinco níveis de referenciação e de intervenção:
- Nível 1: Promoção da saúde, prevenção da doença mental e sinalização (ausência de referenciação): correspondente ao primeiro e segundo steps do modelo que pressupõe propostas de prevenção e promoção de saúde mental e bem-estar, assente em programas de literacia em saúde mental e propostas de autocuidado, programas de mentoria e tutoria, apoio por pares e apoio de carater psicopedagógico;
- Nível 2: Reações de ajustamento e adaptação (ausência de referenciação ou referenciação por pares e/ou outros serviços/ estruturas das instituições): correspondente ao terceiro e quarto steps do modelo, que postula intervenções de caráter breve online ou intervenções de sessão única, assim como intervenções em grupo de promoção de competências e workshops de autoajuda;
- Nível 3: Perturbações mentais comuns (referenciação por profissional de saúde, e/ou referenciação por profissional de psicologia, psiquiatria e medicina geral e familiar) e
- Nível 4: identificação e intervenção em situações de risco (referenciação por profissional de psicologia, psiquiatria e medicina geral e familiar); correspondente ao quinto, sexto e sétimo steps do modelo, que inclui intervenções de caráter psicoterapêutico individual e em grupo, bem como intervenções médicas;
- Nível 5: perturbações mentais graves e/ou risco elevado (referenciação por profissional de saúde da área da medicina da instituição para os Serviços Locais de Saúde Mental, Serviço de Urgência, Cuidados de Saúde Primários, Equipas de Tratamento do DICAD ou outro serviço de saúde externo): correspondente ao oitavo step do modelo, que implica a referenciação e o encaminhamento para unidades de saúde mental locais.
Este programa surge operacionalizado em três eixos estratégicos, de intensidade e referenciação crescentes, de acordo com a necessidade de intervenção identificada. A saúde mental pode assim ser concetualizada ao longo de um continuum, com três dimensões principais na perspetiva bottom up, desde o bem-estar mental, passando pelo mal estar psicológico até à doença mental, o que exige adaptação de respostas diferenciadas por parte dos Serviços de Saúde Mental e Bem-Estar da Universidade do Porto. Esta proposta de candidatura visa definir e transversalizar políticas saudáveis, sustentáveis, inclusivas e acessíveis, que reforcem a sua atuação na promoção da saúde mental.
Três pilares estratégicos para ações transversais em saúde mental:
- BOOST - Potencia um incremento de soft skills associados à saúde mental e refere-se à promoção do bem-estar psicológico e estratégias de coping ativo que incluem treino da AUTOCONSCIÊNCIA, AUTORREGULAÇÃO E MOTIVAÇÃO.
- MEET - Aposta na conexão social e inclui EMPATIA e as HABILIDADES SOCIAIS. Visa promover as relações interpares, através de dinâmicas de acolhimento e integração social e académica. Foca cultura solidária, partilha de vivências para construir suporte social.
- BLOOM - Incentiva a PROATIVIDADE NA BUSCA DE APOIO PSICOLÓGICO ESPECIALIZADO e o COMBATE AO ESTIGMA associado à doença mental, no sentido de partilhar e validar necessidades, encontrar significado na vida e planear mudanças duradouras e sustentáveis.
Nesta lógica, o programa pressupõe então os três eixos estratégicos formando o acrónimo BAMBUP: Boost, Meet & Bloom at University of Porto, tendo em vista harmonizar as respostas nas Unidades Orgânicas com milestones bem definidos e que incluem o envolvimento ativo dos estudantes, na definição, execução e dinamização do programa, em articulação com os SSMBE. Assente no modelo stepped care em saúde mental aplicado às instituições do Ensino Superior, o projeto BAMBUP visa operar a transição do caráter remediativo, para o pleno desenvolvimento do potencial humano, com enfoque na prevenção, promoção e literacia em saúde mental e autocuidado. Assim, o foco não é apenas reabilitar o funcionamento dos estudantes universitários com psicopatologia, mas sim a promoção da saúde e prevenção da doença, assente em programas de soft skills testados pela evidência e a melhoria dos ambientes académico e social, conducentes ao florescimento e à adoção de estilos de vida saudáveis, assentes na literacia e resiliência para a saúde. Paralelamente, desenvolver recursos sociais que permitam partilhar ideias com grupos e motivar-se reciprocamente, em linha com a Direção-Geral da Saúde e Federação Académica do Porto, no plano concertado “Saúde de Qualidade: Compromisso para o Ensino Superior” (maio de 2023), no apoio à evolução destes serviços de saúde para estudantes universitários. Neste enquadramento, o projeto integra-se no plano estratégico mais amplo U.PORTO 2030, que prioriza respostas articuladas de saúde mental em contexto universitário, dando 27 continuidade ao trabalho até aqui desenvolvido, em consonância com o Plano Nacional de Saúde Mental.
Modelo Stepped Care do Programa ACCES para a U.Porto
- BOOST: EIXO 1 – integra o primeiro step do nível 1, de caráter universal, com propostas de prevenção e promoção de saúde mental e bem-estar, assentes em programas de literacia em saúde mental e autocuidado. O desenvolvimento destas respostas tem demonstrado eficácia, na medida em que promovem o autoconhecimento e incentivam a procura de ajuda na população jovem, nomeadamente a organização de rubricas de literacia em saúde mental, cartazes e autocolantes com envolvimento dos estudantes nas campanhas (1.1 Be Kind to your Mind), realização de workshops e webinars com divulgação interativa do plano de ações e sua calendarização junto das associações de estudantes focados na saúde e bem-estar bem como no desenvolvimento vocacional e de carreira (1.2 UPSKILLS), disponibilização da oferta de serviços e atividades online numa plataforma de fácil consulta que agrega as respostas junto da comunidade estudantil (1.3 AtivaMente) e mapear a saúde mental dos estudantes através do 1.4. Observatório de Saúde Mental com impacto na conceção de práticas informadas e politicas institucionais eficazes.
- MEET: EIXO 2 – inclui o step 2 do nível 1, e os steps 3 e 4 do nível 2, que conta com um 2.1 Toolkit de boas-vindas e webinar dedicado aos desafios e oportunidades no ingresso no Ensino Superior, dinamização de atividades desportivas, culturais e lúdicas (2.2 Healthy Campus), projetos de voluntariado estudantil (2.3 UPORTO Solidária), programas de tutoria por pares e apoio psicopedagógico (2.4 Peer Study Sessions), intervenções breves online (2.5 PSICON) e de sessão única, assim como intervenções em grupo de promoção de competências de resiliência psicológica (2.6. BE RESI) que incluir as subactividades do Programa Riscos & Desafios, bem como competências de sinalização de primeiros socorros psicológicos (Reconhecer, Responder e Referenciar). Os programas de apoio através dos pares têm sido implementados particularmente em contextos escolares, com resultados bastante promissores, particularmente em situações de promoção da integração no contexto académico e na redução de estigma e discriminação. Por sua vez, as sessões únicas de intervenção foram propostas para reconhecimento como psicoterapia e a sua eficácia tem vindo a ser comprovada particularmente em situações de sintomatologia ligeira, em específico em situações de depressão, ansiedade e mal-estar.
- BLOOM: EIXO 3 – abrange os níveis 3, 4 e 5, dos steps 5 ao 8, desde formar os profissionais de saúde a avaliar e melhor intervir (atividade 3.1 Formar – Avaliar- Intervir), a 3.2 Intervenção Psicoterapêutica de Grupo e Individual, até à articulação com a 3.3. Intervenção Médica e Referenciação para serviços de saúde mental locais e como atuar em casos de 3.4 Pósvenção. Disponibilizam-se serviços de saúde mental para estudantes com elevado risco do ponto de vista psicopatológico ao sugerir a intervenção psicoterapêutica no ensino superior para perturbações mentais comuns, situações de risco e referenciação para serviços especializados da comunidade, em casos de perturbação mental muito grave ou risco elevado.
Conheça as atividades do Programa BAMBUP para 2024 nas seguintes valências:
- UP SKILLS
- BE RESI e Programa Riscos & Desafios
- Intervensões Psicoterapêuticas em Grupo