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Nota biográfica

Abel, filho mais velho de Adolfo Barroso Pereira Salazar e de Adelaide da Luz Silva Lima Salazar, nasceu em Guimarães, a 19 de julho de 1889. Abel Salazar foi um médico, professor, investigador e pintor que trabalhou e viveu no Porto. As suas obras artísticas, com referências sociais, antecipam o movimento neorrealista na pintura portuguesa.

Conhecido como o menino que adorava comboios e sonhava ser engenheiro, estudou no Liceu Central, no Porto, onde cedo revelou as suas aptidões artísticas e os seus ideais republicanos. Cursou Medicina, obtendo o diploma em 1915, com a classificação de 20 valores. Cinco anos mais tarde ascendeu a professor catedrático e fundou o Instituto de Histologia e Embriologia na Faculdade de Medicina. Entre 1926 e 1931, uma depressão nervosa afastou-o da carreira académica. No regresso à vida ativa procurou reconstituir o trabalho científico e pedagógico. Apesar de fragilizado pelo isolamento dos anos anteriores, estava cheio de projetos, mas teve uma enorme desilusão: o seu Instituto de Histologia encontrava-se praticamente ao abandono e desprovido da biblioteca. Nos anos seguintes continuou o trabalho pedagógico e científico e entregou-se também, entusiasticamente, à Pintura, à História, à Crítica de Arte, à Filosofia e à divulgação cultural.


Biografia

Entretanto, a situação política em Portugal degradara-se. A Ditadura não admitia vozes críticas ou a difusão de ideias democráticas, o que explica a portaria de 5 de junho de 1935 que afastou Abel Salazar da Universidade. Perdeu a cátedra e o laboratório, foi proibído de frequentar a biblioteca da Faculdade de Medicina e de se ausentar do país. O motivo invocado para o expulsar foi "a influência deletéria da sua ação pedagógica sobre a mocidade universitária." Tudo o que restava do Laboratório de Histologia coube numa carroça.

O mesmo documento afastava do serviço outros professores universitários, entre os quais contavam-se o Aurélio Pereira da Silva Quintanilha (1892-1987), professor catedrático da Faculdade de Ciências, o Sílvio Vieira Mendes de Lima (1904-1993), professor auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e o Manuel Rodrigues Lapa (1897-1989), professor auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Afastado da Universidade e proibido de se ausentar do país, Abel Salazar dedicou-se então às suas preocupações sociais, filosóficas, políticas, estéticas e literárias e intensificou a sua produção artística.

No início da década de 40 voltou à Universidade do Porto para dirigir o Centro de Estudos Microscópicos na Faculdade de Farmácia e trabalhou, ainda, no Instituto Português de Oncologia.




Vítima de cancro no pulmão e com o agravamento da doença que já há um ano o debilitava, Abel Salazar instalou-se em Lisboa na casa da irmã Dulce Salazar Dias, em outubro 1946. Consultando pouco depois o médico Pulido Valente, que lhe diagnosticou cancro de pulmão. A morte chegou a 29 de dezembro desse ano.

O seu corpo foi depositado na Casa do Distrito do Porto, em Lisboa, e dia 31 começou a organizar-se o funeral. Na viagem de trasladação do corpo, em Leiria, a polícia de escolta desviou o itinerário para evitar a passagem por Coimbra e à chegada ao Porto este foi diretamente encaminhado para o cemitério do Prado do Repouso. Na manhã seguinte, centenas de pessoas acorreram, enquanto muitas outras integraram o cortejo fúnebre iniciado na Casa dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Cerca das 16h00, mais de 50 000 pessoas preenchiam o perímetro da necrópole. No final da cerimónia fúnebre, o falecido foi elogiado por Lobo Vilela, Ruy Luís Gomes, Eduardo Santos Silva, Virgílio Marques Guedes e Carlos Barroso. Após a deposição do ataúde na cova, e a observância de dois minutos de silêncio, ouviu-se o hino nacional. No momento em que a multidão dispersava, uma brigada de assalto armada espalhou violência e pânico e prendeu o Dr. Ruy Luís Gomes.