Sem formação académica, aprendeu a pintar pela experimentação, pela observação dos grandes mestres, nomeadamente do Barroco, do Impressionismo e do Naturalismo. Demarcou-se, politicamente, dos modernismos e vanguardas do início do século, criando um estilo pessoal, visivelmente influenciado por grandes vultos da pintura nacional oitocentista, da Escola do Porto, como Henrique Pousão (1859-1884), que considerou ser impressionista avant la lettre, Silva Porto (1850-1893), que ajudou a introduzir em Portugal a pintura de Ar Livre e Artur Loureiro (1853-1932), com quem conviveu de perto.
Entendido como precursor do neorrealismo pictórico em Portugal, introduziu o povo, ou melhor a mulher do povo (carrejonas, carvoeiras, carquejeiras, trapeiras, costureiras, cozinheiras, lavadeiras, leiteiras…), sofredora, mas digna, fazendo dela protagonista da arte nacional.
Abel Salazar, além do notável acervo presente na Casa-Museu, destacou-se pela sua vasta produção artística e científica, deixando marcas que podem ser admiradas em vários locais emblemáticos da cidade do Porto. Explore a sua influência e legado, que ultrapassam os limites deste espaço, enriquecendo a história e a cultura da cidade.
Mural do Rialto
Para o rés-do-chão do antigo café Rialto, edificado no primeiro “arranha céus” do Porto, projetado no início dos anos 40 do século XX por Rogério dos Santos Azevedo (1898-1983) para o lado sul da praça D. João I (ainda em construção), Abel Salazar produziu um mural a carvão intitulado a “Síntese da História”. Obra de grandes proporções (5,00 m x 3,30 m) realizada a fresco, técnica de que o artista se socorreu praticamente apenas neste trabalho, e numa encomenda realizada para a Casa de Saúde da Boavista (cinco paisagens do Gerês, na entrada do bloco operatório).
Simboliza o esforço da humanidade ao longo dos tempos. E nesse esforço havia trabalhadores e estandartes que os guiavam. Tal composição não escaparia à censura; e assim, o mural viria a ser mutilado pelo Estado Novo.
O café fechou portas em 1972. Passou para a propriedade de um banco, mas conservou parte da sua ornamentação original. O fresco foi restaurado na viragem do século, por Mónica Baldaque (1946-), mas encontra-se hoje entaipado, pela empresa arrendatária do espaço térreo do espaço. Diligências estão a ser feitas pela Casa-Museu Abel Salazar e pela edilidade portuense para que não seja mais um património em risco.

Salão Silva Porto
Em 1925, o professor e pintor Alberto Silva (1882-1940), com Álvaro Pinto de Miranda, arquiteto autodidata, e Jacinto da Silva Pereira Magalhães, industrial e político, fundou o Salão Silva Porto, sedeado no n.º 285 da rua de Cedofeita, no Porto, num edifício oitocentista projetado por Gustavo Adolfo Gonçalves de Sousa (1818-1899). Nesta galeria de arte que homenageava o pintor naturalista nascido no Porto – António Carvalho da Silva Porto - expuseram artistas estreantes e autores consagrados; realizaram-se saraus musicais e literários, conferências culturais e ainda a exposição coletiva de homenagem a Silva Porto, Henrique Pousão e Artur Loureiro (1935). No âmbito desta instituição, Alberto Silva criou uma escola de artes plásticas designada Academia Silva Porto, onde ministrou cursos de desenho (1933) e o Boletim do Salão Silva Porto, para divulgação das artes em Portugal e registo das exposições e do material da coleção deste salão (1939-1940).
Abel Salazar aqui expôs, individualmente, por duas ocasiões: em 1938 - Exposição de quadros do Prof. Dr. Abel Salazar e em 1940 - Exposição de Croquis, Esquissos, Monotipias e Cobres Martelados, e realizou um Curso Prático de Cytologia, Histologia e Anatomia Microscópica [1937 - 1943].

Casa da Saúde da Boavista
A Casa de Saúde da Boavista foi inaugurada oficialmente a 8 de setembro de 1934.
Ao longo da sua história foram realizadas diversas remodelações e ampliações, sendo a primeira - seguindo o parecer de João de Almeida, médico visionário e conhecedor da realidade hospitalar internacional - a construção de um Bloco Cirúrgico, cuja inauguração data de 1940.
Com o objetivo de tornar o novo espaço mais acolhedor, João de Almeida propôs a criação de pinturas murais, a cores, nas paredes do corredor que conduzia os doentes até à sala de anestesia. Aprovada a ideia, o médico contactou Abel Salazar para realizar a tarefa. Em plena Segunda Guerra Mundial, a escassez de materiais levou Abel Salazar a pintar os cinco murais, que representam paisagens do Gerês, não a cores, mas com tinta preta de impressão.
