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Acervo

O acervo da Casa-Museu Abel Salazar é constituído por 4289 objetos, distribuídos pelo património artístico, património científico, património documental e património doméstico. Explore a página e encontre exemplos do acervo da Casa-Museu.

Património artístico

Caracterizado pela sua diversidade, o património artístico de Abel Salazar é composto por desenhos, pinturas, gravuras, esculturas e o tão característico cobre martelado.

Observador atento, a variedade de materiais e de suportes que Abel Salazar utilizou são demonstrativos da sua versatilidade enquanto artista. Tinta-da-china, carvão ou grafite, muitas vezes usados de forma conjugada, revelam-se em centenas de desenhos de anatomia, paisagem, viagens, retratos, de amigos, colegas ou figuras públicas que admirava, tendo sido executados de modo realista ou caricatural, sobre papéis dos mais diversos tipos, origens e qualidades, em cadernos ou folhas soltas, podendo figurar detalhes ou esquemas mínimos e rápidos.


Sem título, n/d

Tinta-da-china e carvão s/ papel

Casa-Museu Abel Salazar

Influenciado, em diferentes fases, pelo Naturalismo Português e pelo Impressionismo, Abel Salazar procurou registar a natureza das paisagens do Minho e os efeitos lumínicos e cromáticos dos antigos mercados do Porto, particularmente observáveis na pintura a aguarela e, de modo mais recorrente, na pintura a óleo. Com pinceladas mais soltas e monocromáticas, assumiu uma preferência pelo esboço, o “inacabado”, que incidiu sobre a criação de retratos de outros artistas, de autorretratos e na representação feminina, sobretudo das mulheres que frequentavam cafés e ruas de diferentes cidades europeias e daquelas que trabalhavam na cidade do Porto, no transporte da carqueja ou na descarga do carvão na Alfândega, sendo, por esse motivo, considerado um precursor da expressão social do movimento Neorrealista.

Feira no Adro, 1937

Óleo s/ madeira

Casa-Museu Abel Salazar

Nas gravuras de Abel Salazar, as temáticas da paisagem e do retrato são predominantes. Seja pela técnica da água-forte, ponta seca ou monotipia, o interesse não se debruçava na virtude da reprodução múltipla proporcionada pela técnica, mas na exploração da dialética visual estabelecida entre a luz e a sombra, provocada pelas manchas e linhas, ora controladas ora aleatórias. Na Casa-Museu Abel Salazar, para além das gravuras finalizadas, pode-se encontrar distintos estados dessas provas e diversas matrizes em chapas de zinco.

Sem título, n.d.

Monotipia sobre papel

Casa-Museu Abel Salazar

Moldadas em barro e posteriormente revestidas a gesso ou bronze, as esculturas de Abel Salazar refletem a sua influência impressionista da pintura e a captura da essência do momento, através da rapidez da execução, dos seus desenhos. Dedicou-se à criação de bustos de personalidades e amigos, e de diversas figuras de mulheres trabalhadoras. De particular interesse são os seus cobres martelados, repuxados e patinados a fogo.

Ramon y Cajal, n/d

Busto / bronze

Casa-Museu Abel Salazar

Os cobres martelados de Abel Salazar foram trabalhados a martelo e submetidos a um processo de patine por ação do fogo. Alguns exemplares apresentam um acabamento suplementar, executado com instrumentos mordentes, tais como ponta-seca e o rolete, destinados a produzir, em combinação com as lascas da patine, efeitos semelhantes aos de uma gravura em água forte ou ponta-seca.

O estilo dessas formas é arcaico, reminiscente dos primitivos metais martelados, onde o martelo não apenas esculpe, mas também pinta e decora.

A oxidação do metal, intensificada pelo calor e pelos gases gerados pelo fogo de combustível, resultou numa paleta de cores que inclui negros-laca, negros-verdes, azuis escuros esverdeados, além de tonalidades brilhantes de carne, que permeiam as figuras femininas centrais.

Esta fusão entre o trabalho de martelo, as patines e lacas obtidas a fogo, e os efeitos derivados de técnicas como a água-forte e ponta-seca, configura uma conceção e técnica original do autor.

Sem título, c.1940-1946

Cobre martelado

Casa-Museu Abel Salazar

Património científico

A carreira científica de Abel Salazar ficou imortalizada neste acervo, através dos seus trabalhos de investigação e o material de laboratório que utilizou.

A atividade científica de Abel Salazar decorreu a par das suas funções docentes como professor de Histologia e Embriologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, entre 1916 e 1935. Continuou a exercer o trabalho de investigação na Faculdade de Farmácia entre 1941 e 1946, já depois de expulso da cátedra em 1935 pela sua oposição ao regime do Estado Novo.

Em condições adversas, encontrou dados biológicos novos e fez observações originais, através de uma particular capacidade para assimilar problemas, hipóteses e teorias, e vocação para os expor e discutir publicamente. Deixou uma sólida obra científica onde se contam 115 notas e artigos, a maioria na literatura internacional, e inúmeros desenhos de carácter histológico.

Acta Anatómica

Fig.1/2

Grafite e tinta da china s/ papel,

Casa-Museu Abel Salazar

O material de laboratório faz parte do acervo da Casa-Museu, permite um conhecimento mais aprofundado sobre os instrumentos, técnicas e métodos utilizados por Abel Salazar na sua carreira científica.

Microscópio e micrótomo que pertenceram a Abel Salazar.

Casa-Museu Abel Salazar

Património bibliográfico e documental

Os documentos da vida de Abel Salazar também constituem o acervo da Casa-Museu, manifestando-se através de obras literárias, artigos de jornal autorais e correspondência pessoal.

As obras literárias de Abel Salazar são, na sua grande maioria, compilações de textos publicados em diversos periódicos, onde o cientista/artista/escritor relata as suas diversas viagens por Portugal e pela Europa, num estilo de escrita particularmente expressivo, que tenta estabelecer cumplicidade com os seus leitores e cumprir a missão de divulgação e democratização da cultura. Outros inúmeros textos de índole filosófica, de reflexão social, de critica artística ou de carácter científico completam um mapa de intenções literárias.

Artigo de Abel Salazar editado no periódico Sol Nascente.

A correspondência pessoal e institucional e as fotografias que fazem parte do acervo da CMAS, permitem um conhecimento mais aprofundado e preservam a memória sobre o trajeto de vida e história profissional singular de Abel Salazar.

Postal de Abel Salazar endereçado de França a Dulce Salazar.

Casa-Museu Abel Salazar

Património decorativo

Muito considerado pelos apreciadores da figura e da obra de Abel Salazar, o património decorativo do acervo da Casa-Museu possui mobiliário e objetos pessoais de Abel Salazar.

O mobiliário presente na CMAS, que reflete uma procura de preservação da autenticidade histórica e o enquadramento de espaços funcionais, divide-se em três grupos distintos: o núcleo original, datado de entre 1920 e 1940, época durante a qual a casa foi habitada por Abel Salazar; o conjunto introduzido sob a responsabilidade da Fundação Calouste Gulbenkian, que adaptou a casa a museu entre os anos de 1950 e 1970; e, por fim, o mobiliário incorporado pela Universidade do Porto, responsável pela modernização dos equipamentos expositivos.

Móvel com desenhos de Abel Salazar, entre duas cadeiras de acento acetinado amarelo estilo D. João V.

Casa-Museu Abel Salazar

Os objetos pessoais de Abel Salazar ajudam a enriquecer a compreensão do visitante sobre a sua marcante personalidade e sobre o seu processo de trabalho criativo e científico.

Entre os bem culturais expostos, destacam-se as ferramentas que utilizou na sua prática artística, tais como pincéis, paletas, tubos de tinta ou lápis, para além dos cadernos de esboços que revelam a génese da sua obra. A exposição permanente da Casa-Museu Abel Salazar também inclui correspondência pessoal, fotografias e objetos de uso diário.

Carteira em couro com lapiseira e relógio de bolso de prata que pertenceram a Abel Salazar. Casa-Museu Abel Salazar.