A importância de falhar

A foto é do livro Wabi-Sabi – Japanese wisdom for a perfect imperfect life, da Beth Kempton. Os participantes do Biolaboratório 2021-22 podem encontrar uma digitalização do capitulo em questão no Moodle.

Estamos na quarta semana da segunda edição do Biolaboratório. O curso é interativo e quem participa já se teve que expor muitas vezes – não só pedimos para falar de quem é e expor as suas ideias como também pedir que executam tarefas impossíveis. Quem consegue fazer um “elevator pitch” sobre um tema de investigação que não tem com um professor que não conhece? Nem o professor que pediu será capaz de o fazer bem. Pois, todo o credito para os participantes que na aula passada não só tiveram a coragem de o fazer, mas também graciosamente aceitaram de ter a sua performance analisada e criticada em frente de toda a turma!

Fiquei a pensar em quão importante que é o processo de falhar. Literalmente, neste caso. O processo pedagógico seria muito pior servido por um pitch quase perfeito. Precisamos de ver algo ser bem executado de vez em quando, claro – sem o exemplo também ficaríamos desnorteados. Mas a tentativa honesta com algumas falhas é que ilustra os problemas mais comuns e permite ao professor explicar como evita-los. E é disso que aprendemos.

Noutros casos o que importa mais não é tanto o processo de falhar em si, mas a coragem de correr o risco de não ser bem-sucedido. Sinto isso na pele quando escrevo este post em português, que é a minha terceira língua. Só a falo com alguma eloquência agora porque há 25 anos assumi que ou aceito que cada vez que abro a boca saem três erros gramaticais, ou fico calada e também nunca aprendo!

E isso aplica-se à toda a atividade de investigação e inovação, que é central ao Biolaboratório (e à minha profissão, como investigadora). O meu pai gosta de referir a uma entrevista com Arvid Carlsson, Prémio Nobel em fisiologia ou medicina que uma vez ouviu na radio. Quando perguntado sobre a chave do seu sucesso como investigador, Carlsson respondeu que foi de ter tido a licença de falhar tantas vezes.

Há um aspeto profundamente filosófico nesta afirmação, e o meu pai que não é cientista pensa de certeza sobretudo nele. Mas Carlsson também foi um forte critico à uma politica de investigação baseada em financiamento de projetos de curta duração e uma pressão constante de produzir resultados e publica-los. A licença que ele teve de falhar foi associada a licença de seguir a sua curiosidade cientifica numa época e um contexto em que não havia esta pressão. Esta mesma licença foi um dos aspetos salientados do representante do espaço de bio-hacking da Universidade de Graz, que referi no post anterior: o de poder experimentar sem ter que prestar contas a uma agência de financiamento.

Anna Olsson, equipa docente

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