Investigadores norte-americanos desenvolveram um medicamento que "engana" o nosso corpo, convencendo-o de que consumiu calorias. O estudo publicado esta segunda-feira na revista "Nature Medicine" provou que o composto é capaz de combater a obesidade e a diabetes.
A pílula funciona como uma "refeição imaginária". Tem o nome de fexaramina e é diferente de outros supressores do apetite pelo facto de não se dissolver no sangue, o que provoca menos efeitos secundários. "Ela só tem ativação no intestino", explica ao Ciência 2.0, Michael Downes, um dos investigadores envolvidos no artigo.
O investigador do Salk Institute for Biological Studies, nos Estados Unidos, diz que este órgão é importante pois é "o primeiro a sentir o consumo de alimentos e a dar sinal ao resto do corpo". A diferença em relação a outros medicamentos é que esta substância, em vez de bloquear absorção de gordura, queima a que existe em excesso.
Com a fexaramina, o organismo recebe sinais como se a pessoa tivesse consumido muitos alimentos e tem, por consequência, de "arranjar" espaço para eles. "Esta substância queima gorduras e ajuda a baixar o peso corporal", adianta também Kristina Grifantin, coautora do estudo.
Os cientistas verificaram, em ratinhos, que foi possível travar o aumento de peso, baixar o colesterol, controlar os níveis de açúcar no sangue e minimizar a inflamação. "Conseguimos reduzir, ao fim de cinco semanas de tratamento com fexaramina, em ratinhos com diabetes, os níveis de colesterol para 35%, de insulina para 70%, de massa gorda para 45% e percebemos que os animais do grupo de controlo ganharam 25% mais peso do que os tratados com esta substância", pormenoriza Michael Downes.
Este trabalho resulta do estudo pormenorizado ao longo de duas décadas do recetor farensoid X, uma proteína responsável pela libertação de ácidos no fígado, pela digestão de alimentos e pela acumulação de açúcares e gordura. A fexaramina é responsável pelo ativar desta molécula, simulando o que acontece no iniciar de uma refeição.
Os próximos passos da investigação passam por testar a segurança e eficiência desta substância em testes clínicos em humanos. "Estes estudos deverão começar nos próximos dois anos", adianta Kristina Grifantin. Os investigadores têm nesse período de tempo de colocar o composto que desenvolveram sob a forma de um medicamento.
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