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 ©flickr/Martin Cathrae
Artigo
Publicado em 24/10/2014 por Renata Silva

Uma equipa de investigadores da Universidade do Porto desenvolveu uma tecnologia que permite detetar em apenas uma hora qual o antibiótico mais adequado a administrar num doente. Uma das vantagens é evitar que os microrganismos criem maiores resistências a estes fármacos.

Atualmente, se um determinado doente tem uma bactéria no sangue, clinicamente é necessária a recolha de uma amostra desse mesmo sangue e nunca demora menos de 48 horas a obter resultados. "Em laboratório, a análise está depende do crescimento dos antibióticos para saber se são ou não resistentes", explica, em declarações ao Ciência 2.0, Cidália Pina Vaz, uma das investigadoras do grupo e docente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

"Enquanto isso os médicos têm de receitar empiricamente antibióticos que dão para um grande número de microrganismos e que induzem maiores resistências", acrescenta. "É um tiro no escuro porque se a bactéria for resistente ao antibiótico receitado, o paciente pode até mesmo morrer".

Os kits permitem uma forma mais rápida de perceber se determinada bactéria é resistente e a que antibióticos. Através deste dispositivo é possível incubar um determinado fármaco juntamente com uma amostra de células. Estas são marcadas com substâncias fluorescentes, como o fluorocromo. A substância vai permitir perceber se existe algum efeito do antibiótico sobre a célula. "Se a célula não aparecer marcada, significa que o antimicrobiano não provocou nenhuma lesão devido à resistência de uma bactéria". Pode excluir-se desta maneira aquele medicamento.

"É um teste mais informativo"

"Estes kits permitem também compreender os mecanismos de resistência dos microrganismos, que são vários. Podemos observar na célula se a bactéria expulsou o antibiótico, por exemplo", esclarece a investigadora que trabalha há 10 anos no estudo destas resistências. "Este é um teste mais informativo", acrescenta, adiantando que podem fornecer dados importantes para estudos nesta área.

A tecnologia aplicada por esta equipa de investigadores pretende também diminuir os custos hospitalares associados e evitar o contágio. "Se for preciso isolar um doente, essa medida pode ser feita de imediato, ao contrário do que acontece atualmente. Quando se percebe que esse é o procedimento necessário já é demasiado tarde e pode ser inútil", refere.

Neste momento os kits encontram-se em fase de certificação e o próximo passo é introduzir o produto no mercado. Os primeiros terão como alvo a Escherichia coli e Pseudomonas, os agentes mais frequentemente isolados em laboratório. Estão definidos protocolos para 30 fármacos. O equipamento foi licenciado à empresa spin-off FAstInov e aguarda patentes nacionais e internacionais.

A cada ano, na Europa, estima-se que 25 mil pessoas morram devido à resistência a antibióticos, o que faz com que haja necessidade de "poupar" estes fármacos antibióticos que muitas vezes podem ser o último recurso para salvar uma vida.

Foto: Flickr/Martin Cathrae

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