O escaravelho ou bicudo-das-palmeiras (Rhynchophorus ferrugineus Olivier) é uma praga que coloca em causa a continuidade de várias espécies de palmeiras em todo o mundo. Chegou a Portugal há cinco anos e tem vindo a propagar-se rapidamente.
A praga de escaravelhos da palmeira foi detectada em 2007 no Algarve, e dispersou-se depois por todo o país: em 2008 chega a Coimbra, em 2009 à Madeira e a Setúbal, em 2010 à Grande Lisboa e ao Grande Porto, e em 2011 a Santarém.
De acordo com Filomena Frazão Caetano, coordenadora do Laboratório de Patologia Vegetal Veríssimo de Almeida, “já foram afetadas várias centenas de palmeiras em todo o país”. Três a quatro meses são suficientes para que estes insetos matem uma palmeira saudável.
“É uma situação preocupante”, alerta a especialista. Filomena Caetano esclarece que a dimensão da praga se deve à “grande capacidade reprodutiva do animal” e ao facto de se “desenvolver no interior da palmeira, protegido contra inseticidas, e sendo difícil de detetar”. “Podem existir cerca de mil e quinhentos a dois mil indivíduos por planta sem que existam sintomas externos”, refere.
A agravar a situação está o facto de esta espécie de escaravelho não ter predadores naturais, estando apenas descrita a existência de alguns ratos e pombos que podem, muito pontualmente, comer alguns destes insetos, o que facilita a sua multiplicação.
Destroem a casa onde vivem
“Folhas pendentes ou desprendidas da coroa, amareladas ou secas e a coroa achatada, conferindo à folhagem uma forma de chapéu de chuva”, são sinais de que uma palmeira foi atacada pelo escaravelho, explica a coordenadora do Laboratório de Patologia Vegetal.
O animal adulto perfura o tecido vegetal sobretudo na base das folhas, onde constrói as câmaras de deposição de ovos. Depois, para se alimentar, as larvas procuram as zonas de crescimento das folhas no interior da copa. É na palmeira que o escaravelho desenvolve todo o seu ciclo biológico, acabando por matar a “casa” onde vive.
Quem é este escaravelho?
Vistosos, cor de ferrugem a avermelhados, com manchas escuras do lado dorsal do tórax. São escaravelhos grandes em comparação com o tamanho normal dos insetos, medindo de dois a cinco centímetros de comprimento. As larvas são cor de marfim e possuem mandíbulas que lhes permitem triturar os tecidos fibrosos das palmeiras.
Este inseto é originário da Ásia Oriental e Polinésia, e desde as décadas de 80/90 tem vindo a expandir-se. Primeiro chegou ao Médio Oriente e, depois, à Europa, tendo sido detetado em Espanha, em Itália, na Grécia, em França e em Portugal.
A expansão da praga faz-se fundamentalmente devido à ação humana. A curta distância, dispersa-se, voando de 5 a 7 km em perseguição de odores alimentícios que a palmeira liberta quando se efetua o corte das folhas. A larga distância, a dispersão deve-se ao comércio de material vegetal já contaminado.
Atente-se que, só em Lisboa, existem cerca de três mil palmeiras espalhadas pela cidade. Pondo em causa a continuidade desta árvore nos espaços verdes, a praga de escaravelhos pode mudar drasticamente a paisagem urbana do nosso país.
Ilustração: Mafalda Paiva