Um grupo de investigadores portugueses recebeu um financiamento de 100 mil euros para apostar numa terapia genética pioneira contra o VIH. O prémio Partnering for Cure Research Funding 2014 foi entregue hoje, dia mundial da sida, no X Congresso Nacional VIH-SIDA.
A equipa do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa foi distinguida pelo projeto pré‐clínico de "uma nova abordagem para a cura total do VIH", avança Pedro Borrego, responsável pelo projeto, em entrevista ao Ciência 2.0. O investigador explica que o projeto tem como objetivo "curar a infeção através de duas estratégias complementares de terapia genética que neutralizam duas etapas diferentes do ciclo de replicação viral: a entrada em novas células e a latência no interior de células já infetadas".
Mesmo com a toma de medicamentos antiretrovirais, que hoje é comum como tratamento do VIH, são estabelecidos no indivíduo infetado reservatórios virais, ou seja, conjuntos de células onde a infeção persiste, replicando o vírus. Por isso, a toma destes medicamentos não é curativa, e tem de ser mantida durante toda a vida.
A nova estratégia atua sobre estes "reservatórios" impedindo a produção de novas partículas virais. "O objetivo é introduzir material genético nas células para desencadear um sistema de defesa que provoca alterações no genoma do vírus, inativando-o", esclarece Pedro Borrego. O sistema que a equipa de investigação quer induzir nas células humanas é originalmente expresso em bactérias, e já foi testado com sucesso em células de mamífero.
Impedir a produção de partículas virais e a infeção de novas células
Para impedir a infeção de novas células, os portugueses propõem uma terapia genética baseada na expressão de "um péptido que, no exterior da célula, se liga aos vírus e impede a sua entrada". "Já se comprovou uma forte atividade desta substância para impedir a entrada de VIH tipo 1 e 2 nas células e, neste momento, está a ser desenvolvido in vitro um sistema que permita a sua expressão", adianta.
Nos próximos dois anos o prémio de 100 mil euros será aplicado para contratar investigadores e para material de laboratório. A distinção no Partnering for Cure Research Funding, organizado pela Bristol-Myers Squibb, permitirá ainda "integrar uma importante rede de contactos de institutos de investigação e de farmacêuticas na Europa, a trabalhar na área do VIH".
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, até ao final do ano passado, 35 milhões de pessoas viviam com o vírus, e só em 2013, houve mais de 2,1 milhões de casos novos. Em Portugal, "o número de novos casos de VIH continua acima da média europeia", admitiu hoje o ministro da saúde, na sessão de abertura do X Congresso Nacional VIH-SIDA. Paulo Macedo assumiu ainda o compromisso de uma maior aposta do país no diagnóstico precoce, através das análises de rotina pedidas pelo médico.
Foto: Flickr/ Andy MacCarty