O ruído excessivo tem consequências para a saúde humana, mas não só… Também os animais sofrem com este problema.
“Temos assistido a um empobrecimento ecológico das zonas urbanas com diminuição da biodiversidade”. O excesso de ruído é uma das causas. Gonçalo Cardoso, investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, e especialista em comunicação animal, esclarece que o problema coincide com o intensificar do tráfego automóvel, uma das principais causas de ruído nas cidades.
Em todos os animais com audição verificam-se efeitos de stress motivados pelo ruído, mas os mais significativos sentem-se ao nível da comunicação. Em ambientes ruidosos, os cantos das aves, por exemplo, são distinguidos a distâncias mais curtas uma vez que o ruído acaba por mascarar o sinal.
Se atentarmos ao facto de que o canto tem grande importância para atrair fêmeas para a reprodução, para competição entre machos na defesa de território, ou para a comunicação entre adultos e juvenis, facilmente nos apercebemos dos impactos que a sua ineficácia pode ter.
“Quando os juvenis estão no ninho os adultos respondem ao seu piar: quanto mais eles piam mais incentivam os adultos a trazerem alimento. Em ambiente ruidoso os juvenis tendem a piar menos”, afirma Pedro Cardia também do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, explicando que com menos alimento há mais debilidade e, por isso, maior morbilidade.
As espécies de aves mais afetadas são aquelas cujo canto tem uma frequência mais grave e coincidente com a frequência do ruído urbano. Perante este problema, as espécies podem ter duas reações: ou saem das cidades, ou modificam os seus comportamentos.
Gonçalo Cardoso tem vindo a estudar esta questão [ver estudo] e percebeu que as aves canoras residentes em zonas ruidosas podem aumentar o volume do seu canto, cantar em alturas do dia com menos ruído ou aumentar frequência do seu canto tornando-o mais agudo. Soluções que, no entanto, não tornam a comunicação tão eficaz como em zonas menos ruidosas.
Ruído submerso
Para além das cidades há um outro habitat onde o excesso de ruído também faz estragos, mas onde os humanos não são afetados. Falamos do mar.
A comunicação dos cetáceos (mamíferos marinhos) faz-se maioritariamente de forma acústica, propagando-se o som debaixo de água muito mais rápido do que acontece no ar. Mas também de forma muito intensa se propagam os ruídos de origem humana que têm, por isso, um grande impacto nestes animais.
Por um lado, os sons produzidos pelos cetáceos para comunicação ou deteção de presas são mascarados e por isso menos ouvidos, tal como acontece no caso dos animais que habitam as cidades. Por outro lado, o ruído produzido por sonares ou por navios pode ser de tal forma intenso que cause lesões graves como “o rompimento de órgãos internos ou destruição de partes do ouvido”, esclarece a bióloga Cristina Brito, especialista em recursos marinhos.
“Na maior parte dos casos, o que acontece é que, em populações residentes nas zonas costeiras ou estuarinas muito ruidosas, os animais ao longo do tempo alteram as suas frequências de comunicação para que não sejam coincidentes com os ruídos do meio ambiente. Em casos extremos mudam de zona”. Segundo a especialista, os golfinhos do estuário do Sado são um exemplo de população animal exposta a estas condições.
Foto: morgueFile/Schick
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