Quando o tempo parece pouco para os dias agitados de hoje, a opção é, muitas vezes, cortar nas horas de sono. Fazer disto um hábito pode ter consequências nefastas para a saúde.
“[Cerca de] 25 por cento da população portuguesa dorme menos de seis horas”, afirmou Marta Gonçalves, presidente da Associação Portuguesa de Sono, com base num estudo levado a cabo em 2009/2010.
Entre os universitários, segundo uma investigação de Ana Allen Gomes, divulgada em 2009, passar uma noite “em claro” é algo comum: 47 por cento dos inquiridos já tinha feito pelo menos uma direta desde o início do ano letivo.
Dormir é essencial à memória
“Quando dormem pouco, as pessoas estão a pôr em perigo o futuro de toda a sua sustentabilidade cognitiva”, alerta a neurologista Teresa Paiva, uma das maiores especialistas portuguesas em medicina do sono. E explica que, “enquanto dormimos, são ativados no nosso cérebro processos de aprendizagem e memória”, uma vez que é favorecida a conexão entre os neurónios, o que é fundamental também para “desenvolver a criatividade e a capacidade de responder a problemas”.
Uma noite sem dormir tem consequências significativas a muito curto prazo. Um bom exemplo disso é a capacidade de condução, atividade em que os erros de quem fica acordado 24 horas são semelhantes aos que se verificam em condutores com taxa de alcoolemia de 1.0 g/l (dados divulgados em 2011 pela Associação Portuguesa de Sono).
“O corpo é que paga”
Para o corpo, o sono é também indispensável, uma vez que é nessa altura que ocorre o arrefecimento, necessário em animais de sangue quente, a produção exclusiva de algumas hormonas (como a do crescimento, a prolactina ou a testosterona), a divisão celular e, por fim, a ativação do nosso sistema imunológico. Não dormir, significa, então, abdicar destas funções fundamentais, podendo ainda desencadear problemas como a diabetes ou a obesidade.
Para além das consequências de não dormir, há que pesar os efeitos do que se faz para resistir ao sono. Há registo, embora em pequena escala no nosso país, de casos de consumo indevido de anfetaminas, ou medicamentos estimulantes como o metilfenidato ou o modafinil.
Estas substâncias podem causar problemas que vão “desde as náuseas, vómitos, dores abdominais e cefaleias, à hipertensão, psicose, palpitações, ou taquicardias”, referiu Ana Oliveira, estudante do mestrado em Toxicologia da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.
Abdicar de dormir nunca é uma solução saudável, mas se a necessidade obrigar mesmo a isso, existem formas menos prejudiciais para a saúde de aguentar a privação: a alimentação, por exemplo, pode ajudar.
A substância mais consumida com este objetivo é a cafeína. Mesmo assim, em excesso, “pode causar complicações cardíacas semelhantes ao que acontece num ataque de pânico”, explica Ana Oliveira. O melhor é mesmo, então, respeitar as necessidades do nosso corpo e dar-lhe o descanso de que necessita.
Foto: auremar/Shutterstock
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